Na quarta-feira, 6 de dezembro, 200 delegados e representantes sindicais de CIPLA e outras fábricas de Joinville, assistiram a uma reunião na fábrica CIPLA, onde Alan Woods falou sobre o tema do controle operário e da luta pelo socialismo. Havia muito interesse entre os trabalhadores formados por jovens e veteranos, homens e mulheres.
Em sua intervenção, Alan explicou como todas as perspectivas dos capitalistas depois da queda da União Soviética tinham entrado em colapso, deixando o mundo assolado por guerras, desemprego, pobreza, terrorismo, instabilidade e opressão. Assinalou o enorme crescimento da exploração e da concentração do capital, o intolerável e cada vez maior abismo entre os ricos e os pobres em todos os países.
Explicou que em todos os países a percentagem da renda nacional representada pelo Capital (lucros) alcançou níveis recordes, e que a parte da classe trabalhadora (salários) tinha caído a níveis historicamente baixos. Este era o verdadeiro "segredo" do boom atual. "Este é um boom a custa da classe trabalhadora".
Continuou assinalando que nos EUA os trabalhadores estão produzindo um terço mais que há dez anos, mas que os salários subiram muito pouco e que, segundo alguns cálculos, na realidade tinham caído. Ao mesmo tempo registrou o aumento obsceno da riqueza de um lado, enquanto o furacão Katrina revelava a existência de uma subclasse de milhões de pessoas vivendo em condições próprias ao terceiro mundo no país mais rico do mundo.
Ofereceu alguns números assombrosos sobre o aumento da riqueza dos empresários nos EUA. Em 1970, disse ele, a remuneração média dos 100 executivos mais importantes dos EUA foi de 1,3 milhões de dólares, 39 vezes mais que o salário médio de um trabalhador. Em 2000, o número equivalente foi de 37,5 milhões de dólares, mil vezes o salário médio.
Em escala global, a situação é ainda pior. De acordo com os números das Nações Unidas, 1,2 bilhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza, com menos de dois dólares diários. Destas, oito milhões de homens, mulheres e crianças morrem a cada ano porque não têm suficientes recursos para viver.
"O pior é que tudo isto é desnecessário", disse Alan. "Os descobrimentos da ciência e a tecnologia moderna são mais que suficientes para resolver todos os problemas da humanidade, desde que estivessem a serviço de um sistema econômico racional. Não há necessidade de que ninguém morra de fome quando se pagam enormes subsídios aos camponeses na Europa e nos EUA para que deixem de produzir comida. O problema não é a falta de recursos, o problema é que as forças produtivas são administradas para o benefício de poucos e não para as necessidades da maioria".
Alan depois expôs a concentração sem precedentes de capital em escala mundial. "Somente precisamos considerar o presente ano. No primeiro trimestre nos EUA as fusões e aquisições alcançaram um valor total de 10 bilhões de dólares ao dia. Num período de 24 horas (19-20 de novembro), a cifra alcançou 75 bilhões de dólares. O total para 2006 superará a cifra recorde de 3,3 trilhões de dólares alcançada em 2000".
"O conjunto do comércio mundial agora se encontra nas mãos de não mais de 200 gigantescos monopólios, a maioria deles localizada nos EUA. Este processo de monopolização não significa aumento da atividade produtiva. Frequentemente, os capitalistas de um monopólio adquirem outra empresa apenas para fechá-la. Creio que aqui, no Brasil, isto ocorreu com freqüência. Na realidade, um monopólio americano ofereceu uma grande soma de dinheiro para comprar a INTERFIBRA (uma fábrica ocupada vinculada à CIPLA) somente para fechá-la [Serge Goulart explica que os trabalhadores conseguiram um acordo que estipulava que a empresa americana não poderia fechar a fábrica durante 15 anos; em vista disso, a "generosa" oferta foi retirada].
"Inclusive quando não fecham a fábrica depois de uma fusão, inevitavelmente despedem milhares de trabalhadores. Pior ainda, na maioria dos casos, os capitalistas recolhem o dinheiro destas fusões através do crédito, graças aos baixos juros do momento. Isto demonstra a natureza parasitária de todo o procedimento.
"São como canibais devorando-se uns aos outros. O destino dos trabalhadores, de suas famílias e comunidades é algo que lhes é completamente indiferente. Fecham fábricas como se tratasse de caixas de fósforo".
Depois tratou da questão do controle operário. Alan elogiou o papel da CIPLA, que colocou como modelo de como se afrontar a ameaça de fechamento de fábricas. Insistiu particularmente na importância vital da proposta de reduzir a jornada a 30 horas semanais sem redução salarial. "Este é um exemplo que deve ser seguido por todos os trabalhadores!". Mas, depois, advertiu: "Não é possível que a CIPLA triunfe isolada. Não é possível criar uma ilha de socialismo dentro de um mar de capitalismo. Para vencer, há que se levar para fora a luta de CIPLA, levá-la a todas as fábricas, a todos os sindicatos, aos agrupamentos do PT, e organizar uma luta pela nacionalização da terra, dos bancos e das grandes indústrias. Sobre essa base será possível organizar um plano socialista de produção sob controle e administração democrática da classe trabalhadora. Essa é a única saída para o Brasil, para a América Latina e para o mundo".
A intervenção de Alan, traduzida por Serge Goulart, foi recebida com entusiasmo pelos trabalhadores que depois da reunião continuaram comentando-a.