O
resultado nas urnas assim como uma vez mais a maravilhosa resistência
do Plan 3.000 de Santa Cruz às hordas fascistas, e a radicalidade
expressa nas resoluções do Comitê Nacional pela Mudança (CONALCAM),
demonstram que as arremetidas e a ousadia da direita e a própria
direita e a burguesia nacional somente puderam sobreviver, reviver e
representar um estorvo com o apoio do imperialismo. O referendo
revogatório e dois anos de experiência, entre sabotagem política e
econômica em todos os setores produtivos, demonstram que os
latifundiários e empresários bolivianos e o imperialismo são
profundamente minoritários na sociedade.
Saudamos com extremo apoio e como um completo acerto, o Decreto Supremo
que, finalmente, convoca o referendo constitucional. O governo começa a
mover-se de maneira mais firme sob a pressão de sua base social, da
classe trabalhadora e do campesinato mobilizado, como demonstra a
convicção manifestada pelo presidente Evo Morales: que a partir de hoje
o verdadeiro observador de qualquer diálogo é o povo.
Seremos o voto definidor sobre o verdadeiro tema em disputa: a posse da
terra. Reduzir a 5.000 ou 10.000 hectares a superfície máxima concedida
ao latifúndio, é desferir um duro golpe à estrutura agrária –
financiadora do capitalismo boliviano e à oposição alocada no leste,
com a consigna “mais terra para repartir, menos poder para a oligarquia”.
A desobediência civil e as medidas de fato, pela oposição e os cívicos
do leste, é a defesa da atual estrutura de posse e exploração da terra.
A nova CPE afeta interesses muito fortes, os interesses dos criadores
de gado, dos barões da soja e de seus amos e sócios imperialistas. Por
tudo isso a resistência destes é com toda clareza violenta, defenderão
com todos os meios sua visão patrimonial sobre a terra e em
conseqüência do Estado.
O referendo revogatório de 10 de Agosto foi a enésima manifestação de
força e grande combatividade das massas bolivianas. Mostrou que os
trabalhadores e camponeses da Bolívia não estão dispostos a entregar o
que ganharam com a sua luta desde a Guerra da Água, muito pelo
contrário, seguem alimentando grandes expectativas de mudança.
Desde a carta das Nações Unidas até os códigos e leis do país, é
reconhecido como um direito legal e legítimo ante qualquer ataque ou
abuso contra pessoas, instituições ou países, o direito à legítima
defesa, quando são violados seus direitos elementares, recomendando-se
sempre que em tal defesa se respeite o principio da “Proporcionalidade”
(Exemplo: Um soco terá como resposta proporcional outro soco).
O que está acontecendo na Bolívia, especialmente em Santa Cruz e em
outros departamentos, como Tarija, Beni e Pando é de fato uma afronta
não só ao país, como ao mundo inteiro, que vê com assombro as imagens
de grupos de delinqüentes fascistas pagos, que obedecendo a consignas
dos governadores e comitês cívicos opositores ao Presidente Evo
Morales, agridem mulheres, idosos e massacram qualquer um que atravesse
seu caminho; e o mais grave de tudo isso, é a impunidade com que atuam,
nesta terra, que segundo os fascistas, é deles e de ninguém mais.
A polícia, como o organismo encarregado de manter a ordem e, sobretudo
resguardar a vida dos cidadãos, foi rebaixada e as agressões seguem
acontecendo. Até quando? Não sabemos, mas quando observamos toda esta
variedade de atos criminais, o que estamos vivendo é um ultraje a
dignidade humana e não é que seja apenas contra mulheres usando pollera (roupa tradicional), seja quem for é um ato de indignidade humana pela qual, como bolivianos, temos que sentir vergonha.
Não é suficiente denunciar os fatos em tom de lamento cúmplice, isto
tem de ter limite, o povo já não suporta mais. Ao povo só resta
responder com a ira popular em nome de SUA LEGÍTIMA DEFESA! Diremos uma
vez mais, nem tudo se acerta com os votos, pois estes não bastam para
conseguir a paz.
Portanto resolvemos:
• Denunciar que as máfias empresariais dos Comitês Cívicos e
departamentais, que se apropriaram de grandes extensões de terra e
recursos naturais da Bolívia, preferem destruir o Estado boliviano a perder seus privilégios econômicos.
• Manifestamos nosso repúdio absoluto às ações fascistas
Cívico-departamentais, com saques e destruição de nossas Instituições
Públicas, executados por grupos financiados pela direita.
• Pedimos à classe trabalhadora, camponeses, agremiações, associações comunitárias e à população organizada, Declarar Mobilização Nacional em defesa da unidade Boliviana e defesa de nossos irmãos bolivianos, que sofrem agressões e massacres no leste boliviano, por parte dos Comitês Cívicos e dos governadores.
• Que o povo boliviano se expresse nas ruas sobre o perigo de um golpe de estado, preparado por empresas nacionais e estrangeiras junto a militares traidores da pátria, que querem, mais uma vez, dar de presente nossas empresas e recursos naturais, para endividar o Estado boliviano.
• Que as Organizações Sociais da Bolívia sejam os atores diretos,
por qualquer meio e recursos necessários, da solução dos conflitos do
país. (Que não sejam os confrontos de pequenos grupos que solucionem o
processo de mudança).
Santa Cruz de La Sierra, 13 de Setembro de 2008
Assinam: Central Obrera Departamental de Santa Cruz;
Asociación de Juntas Vecinales de la Ciudad Santa Cruz; Asociaciones
Gremiales del Mercado Abasto de la Ciudad de Santa Cruz; Asociaciones
Gremiales del Mercado La Ramada de la Ciudad de Santa Cruz;
Asociaciones Gremiales del Mercado Mutualista de la Ciudad de Santa
Cruz; Mercado del Plan Tres Mil (Plan 3000) de la Ciudad de Santa Cruz;
Organización Marcelo Quiroga Santa Cruz; Organización Andrés Ibáñez
(Los Igualitarios); Organización Cañoto; Comité Cívico Popular del
Departamento de Santa Cruz; Organización Ignacio Warnes; Organización
Avanzada Che Guevara; Organización Antonio José de Sucre; Unión Juvenil
Popular del Departamento de Santa Cruz; El Movimiento Universitario
Social (MUS) de la U.A.G.R.M.; Trabajadores Sociales del Departamento
de Santa Cruz.
Source: Esquerda Marxista