A turbulência financeira dos últimos dias varreu milhares de milhões do valor das acções em todo o mundo. Na 6ª feira 10 de Agosto só o índice da bolsa de valores de Londres, o FTSE 100, caiu £63 mil milhões [€93 mil milhões]. O que significa isto? Obviamente a capitalização do mercado, como é chamada, é apenas um preço no papel. A mesmas firmas estão ainda a empregar os mesmos trabalhadores e a fazer as mesmas coisas. Mas estas firmas subitamente estão a valer menos £63 mil milhões do que vinte e quatro horas antes. E isto deveria tocar as campainhas de alarme para os seus trabalhadores - e para todos nós.
Certamente, algumas personalidades importantes estão preocupadas. O Banco Central Europeu (BCE) é um corpo austero que parece gastar a maior parte do seu tempo a dizer-nos o que não podemos fazer. Numa dramática mudança de estilo, o BCE, o Federal Reserve Bank dos EUA e os outros bancos centrais do mundo lançaram em dois dias US$323 mil milhões [€236 mil milhões] nos mercados financeiros do mundo: em 9 e 10 de Agosto.
As autoridades monetárias estão preocupadas quanto a um possível colapso do sistema financeiro global.
A origens deste estouro da boiada está no escândalo do empréstimos sub-prime americanos. Ao longo dos últimos anos os preços das casas em muitos países capitalistas avançados, incluindo os EUA, incharam numa bolha. A bolha tem sido alimentada pelo crédito fácil que empurra os preços das casas sempre para cima. Nos EUA, prestamistas duvidosos tem estado a atirar dinheiro para pessoas pobres que possivelmente não poderiam aguentar os reembolsos. Estas instituições financeiras por sua vez extraíram sua libra de carne daqueles que encaravam como prestatários de alto risco (sub-prime). Isto soa como um beco sujo do mundo do empréstimo de dinheiro. E é.
O lema destes prestamistas é o mesmo dos especuladores antes do crash da Wall Street em 1929. Transfira o risco para "o louco maior". A bolha do preço das casas explodiu nos EUA, permitindo às pessoas que contemplassem o paraíso dos loucos que era o mercado habitacional. E quanto aos mutuários das sub-prime? A maior parte deles teve as suas casas retomadas. Muitos deles ficaram sem casa. Esqueça-se deles. São insignificantes. Já não importam.
Mas esta sórdida pequena trapaça está ligada e ameaça a existência dos mais respeitados e conservadores bancos do mundo. Isto processa-se assim. Os operadores financeiros na City são por vezes descritos como 'inovadores' na imprensa financeira. Tanto quanto podemos ver, a maior parte deles não podia inventar nem mesmo o carrinho de mão - a menos que fosse para ganhar a sua porcentagem com isso. Vencedores do Prémio Nobel de matemática foram atraídos à City a fim de inventar fórmulas misteriosas que dariam garantia de bater os mercados! O que esta 'inovação' habitualmente significa é juntar e jogar instrumentos financeiros em pedaços de papel cada vez mais imaginativos. E um componente destes bocados de papel que todos os génios na City têm estado a comprar são as tóxicas hipotecas sub-prime.
O capitalismo é um sistema em que todos nós dependemos de todos os demais como meio de vida, mas nós não percebemos isto. O modo como a produção é socializada e mantida em conjunto na ausência de um plano socialista é através do sistema financeiro. Assim, se grandes bocados do sistema bancário desaparecerem no vasto azul distante, isto poderia ter grandes repercussões para todos nós.
O modo como o capitalismo nos é vendido é este: a maior parte de nós quer continuar com as suas vidas. Felizmente há uma minoria de empresários amantes do risco que fazem as coisas acontecerem. Isto é tudo lixo.
Primeiro dizem-nos que há pessoas na City com cérebros do tamanho de Saturno que entendem as intrincâncias da alta finança por meio que a maior parte de nós é totalmente incapaz de apreender. Estes guardiões dos portões dos grandes bancos não reconheceram a coisa e não tocaram o alarme. O presente estouro mostra que estas pessoas são apenas gado.
Em segundo lugar, os capitalistas são supostos assumir riscos. Bem, todos eles apostaram nos perdedores - créditos que incluem as hipotecas sem valor das sub-prime. "Por que não colocar tudo no negro e ver se desta vez consegue ganhar?". Correcção: os banqueiros centrais tomam o nosso dinheiro e dão-no aos perdedores incompetentes e aos vigaristas completos que dirigem o sistema financeiro a fim de lhe dar uma outra oportunidade.
Será que a difusão do pandemónio engolirá a economia real? Não sabemos ainda. O que sabemos deste incidente é que o capitalismo nos oferece uma vida de insegurança permanente.
15/Agosto/2007
Nota
As voltas do mercado de acções foram a grande história do último fim de semana. Mas houve uma história mais pequena. O National Institute for Clinical Excellence (NICE) da Grã-Bretanha decidiu não permitir uma droga que retarda o princípio da doença de Alzheimer, a qual seria prescrita pelo Serviço Nacional de Saúde. O NICE disse que a droga é cara. E é. Se prescrita, ela poderia melhorar muito a qualidade de vida de pessoas a caminho da demência.
Ainda mais importante: ela poderia proporcionar alívio àqueles que os cuidam. A maior parte dos pacientes de Alzheimer são cuidados em casa por pessoas que também podem ser idosas e com saúde fraca. Elas não são paga, muitas vezes têm de desistir de oportunidades de emprego para cuidar do paciente e recebem muito pouca ajuda do Estado. As pessoas que cuidam desse doentes são pessoas admiráveis. Elas não pensam em dinheiro o tempo todo. São motivadas por um compromisso para com os seus seres queridos. No caso de Alzheimer, os doentes podem nem mesmo reconhecer que cuida deles.
Assim, quando NICE afirma que não tem recursos para a droga de Alzheimer, pense nos cerca de €236 mil milhões que os bancos centrais lançaram nos mercados financeiros em apenas dois dias.