“Um espectro ronda a Europa”. Com essa famosa frase, os autores de O Manifesto Comunista proclamaram a alvorada de uma nova etapa na história humana. Isso foi em 1848, um ano de levantamentos revolucionários na Europa. Mas, agora, um espectro está rondando não só na Europa, mas no mundo todo. É o espectro da revolução mundial.
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Revolução mundial não é uma frase vazia. Descreve com precisão a nova etapa em que estamos ingressando. Se considerarmos apenas os acontecimentos dos últimos 12 meses, levantamentos revolucionários irromperam na França, no Irã, no Sudão, na Argélia, na Tunísia, em Hong Kong e no Chile, e protestos antigovernamentais convulsionaram o Haiti, o Equador, o Iraque e o Líbano, onde as massas tomaram as ruas e greves gerais paralisaram o país.
Na França, o movimento dos gilets jaunes pegou a todos de surpresa. Antes dessa revolta em massa, tudo parecia estar indo de acordo com o plano de um “centro político” na pessoa de Emmanuel Macron. Suas reformas (na realidade, contrarreformas) estavam correndo sem problemas. Os líderes sindicais estavam se comportando de maneira responsável (isto é, capitulando). Tudo isso foi rudemente interrompido quando as massas tomaram as ruas da França dentro das melhores tradições revolucionárias de seu país e abalaram o governo ao máximo. Esse movimento de milhões de pessoas parecia vir do nada, como um raio em um céu azul claro.
Exatamente o mesmo aconteceu em Hong Kong. Qualquer pessoa com alguma dúvida sobre o potencial revolucionário que existe atualmente deve estudar esses eventos cuidadosamente. Antes disso, os homens em Pequim e seus agentes locais pareciam estar no controle total. No entanto, houve um poderoso movimento de milhões de pessoas, desafiando uma ditadura formidável nas ruas. E, como o movimento na França, parecia vir do nada.
A mesma coisa aconteceu com todos os movimentos de massa que eclodiram em um país após outro. Se fosse uma questão de um ou dois países, se poderia objetar que se tratava de fenômenos acidentais – de episódios passageiros, dos quais nenhuma conclusão geral poderia ser tirada. Mas, quando vemos exatamente o mesmo processo ocorrer em um país após outro, não temos mais qualquer direito de descartá-lo como um acidente. Pelo contrário, esses desenvolvimentos são uma manifestação do mesmo processo geral, refletindo as mesmas leis e tendências subjacentes.
Desenvolvimentos revolucionários na América Latina
Quando Mauricio Macri ganhou a eleição presidencial na Argentina em 2015, isso foi proclamado como mais uma prova da “onda conservadora” que varre a América Latina. Mas a recente eleição pôs um fim aos sonhos econômicos de Macri e sua quadrilha pró-empresários.
O homem que prometeu “pobreza zero” terminou seu mandato com o peso em queda livre, com uma taxa anual de inflação de 56%. O número de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza aumentou de 29% a 35%. Um empréstimo de emergência do FMI não foi suficiente para restaurar o equilíbrio.
Se houvesse uma liderança clara do movimento dos trabalhadores, o governo de Macri poderia ter sido derrubado por um movimento revolucionário a partir de baixo. Isso ficou demonstrado pelos recentes acontecimentos no vizinho Chile. Essa explosão de raiva popular irrompeu apenas uma semana depois que o odiado governo de Piñera declarou um estado de emergência, a militarização das ruas e o toque de recolher. Mas, nem a repressão brutal, nem as torturas, nem o toque de recolher, nem as falsas concessões detiveram um movimento que está adquirindo características insurrecionais.
Esse movimento começou quando estudantes secundaristas lançaram um protesto contra o aumento da tarifa do Metrô, em Santiago. Mas, uma vez iniciado, se transformou rapidamente em um movimento nacional destinado a derrubar todo o regime. Foi a culminação de 30 anos de cortes, privatizações, ataques à classe trabalhadora, desregulamentações e crescente desigualdade.
Na sexta-feira, 25 de outubro, mais de um milhão de pessoas se manifestaram na capital. Essa mobilização foi repetida em cidades e comunas de todo o país. Um total de mais de dois milhões de pessoas tomaram as ruas. Esse não é um caso isolado. Não muito antes disso, vimos uma explosão revolucionária semelhante no Equador, onde o movimento, que começou como um protesto contra o pacote do FMI imposto pelo presidente Lenín Moreno, se transformou em uma insurreição nacional que forçou o governo a fugir da capital Quito e a fechar a Assembleia Nacional.
Como no Chile, esse movimento alcançou proporções insurrecionais colocando de forma categórica a questão do poder. A questão central aqui não é esta ou aquela reforma, mas quem governa? O governo declarou um estado de emergência e ordenou à polícia e ao exército esmagar a rebelião, o que deixou um morto, dezenas de feridos e resultou em centenas de prisões. Mas, diante de um levantamento das massas, todos as ferramentas normais da repressão estatal se revelaram impotentes.
A capital, Quito, foi abandonada pelo governo. Na quarta-feira, 9 de outubro, uma poderosa greve geral paralisou o país e uma gigantesca marcha de entre 50 mil e 100 mil manifestantes se dirigiu novamente ao Palácio Presidencial de Carondelet, abandonado rapidamente por Moreno no dia anterior. Por alguns momentos, o movimento tomou o controle da também vazia Assembleia Nacional, com a intenção de instalar uma Assembleia do Povo.
Aqui está uma prova impressionante do colossal potencial revolucionário que existe não só no Chile e no Equador, mas em escala mundial.
Líbano
No outro lado do mundo, no Oriente Médio, parecia que a reação havia triunfado decisivamente por toda parte. A Revolução Árabe parecia morta e enterrada. No entanto, mais uma vez, as forças daquela grande revolução estão mais uma vez em marcha.
No Líbano, um país com não mais de seis milhões de habitantes, mais de dois milhões tomaram as ruas. Também no Iraque destroçado pela guerra dezenas de milhares estão lutando contra os militares e paramilitares nas ruas. No Líbano e no Iraque, poderosos protestos de massas levaram à queda dos primeiros-ministros de pois de apenas algumas semanas de luta.
Durante anos, regimes reacionários se apoiaram nas divisões sectárias na sociedade para atalhar a luta de classes, mas essas táticas não estão mais funcionando. Os movimentos estão trazendo à superfície as contradições de classe. As demandas nas ruas são por emprego, educação, cuidados de saúde e o fim dos roubos escandalosos e da corrupção no topo. Na Jordânia, em 2018, uma greve geral e protestos em massa levaram à queda do primeiro-ministro Hani Mulki.
Lenin disse que a política é economia concentrada. Essa afirmação é claramente corroborada pelos eventos que estamos discutindo aqui. Naturalmente, as questões econômicas não são o único elemento da equação. Mas não pode haver dúvida de que foi a combinação de uma crise econômica aguda e décadas de desgoverno corrupto por uma classe de ricos sanguessugas e seus fantoches políticos que empurrou a sociedade ao limite.
O Líbano é um bom exemplo. Tem a mais alta relação dívida/PIB do mundo. O desemprego é de quase 25% e dezenas de milhares de jovens educados se veem obrigados a deixar o país todos os anos devido a falta de oportunidades. Todas essas coisas são uma receita pronta e acabada para uma explosão social.
Os principais partidos políticos que dividiram o país ao longo de linhas sectárias durante a Guerra Civil ainda estão hoje no poder, administrando mal os fundos públicos e acumulando déficits orçamentários ano após ano. Parecia que isso nunca mudaria, mas agora um movimento revolucionário poderoso irrompeu no Líbano, abrangendo todo o país e mudando dramaticamente a situação política.
Manifestações em massa varrem o país desde 17 de outubro com um rosário de queixas de longa data, incluindo a corrupção desenfreada, a falta de serviços públicos e o agravamento da crise econômica. Bancos foram fechados por medo do colapso econômico, enquanto os manifestantes saíam às centenas de milhares, bloqueando estradas e enchendo praças.
Os protestos foram espontâneos e totalmente desorganizados; nenhuma organização reivindicou os protestos como seus porque realmente é uma revolução popular. Pessoas de distintas seitas religiosas, classes sociais e origens políticas saíram às ruas para expressar sua raiva pela má administração atual da economia e exigiram a queda do regime cleptocrático.
Embora os manifestantes venham de diferentes contextos políticos, o que os une é a raiva pelo ataque aos padrões de vida. Essa raiva, em última análise, deriva, na minha opinião, de uma crescente divisão econômica entre os 10% mais ricos dos libaneses (compostos pelos políticos e pelas elites corporativas) e a gente da classe trabalhadora.
O crescente descontentamento atingiu um ponto de inflexão em um enorme movimento de massa de dois milhões de pessoas que se estendia por todas as províncias, atravessando todas as divisões sectárias. Pessoas de todas as religiões se juntaram ao movimento. Sem qualquer organização ou liderança, as massas revolucionárias enfrentaram uma violenta opressão para lutar contra seus governantes ladrões.
Como no Equador e no Chile, o governo tratou de rechaçar os protestos, com as forças armadas usando gás lacrimogêneo, e várias imagens e vídeos da violência da polícia contra os manifestantes apareceram nas redes sociais. Apoiadores do movimento libanês Hezbollah e de seu aliado político, Amal, atacaram os manifestantes no centro de Beirute.
Durante muitos anos, os movimentos xiitas apoiados pelo Irã puderam se esconder por trás de seu conflito com os EUA, e o imperialismo saudita e israelense. Mas agora fazem parte da elite dominante. Enfrentados à ascensão do movimento revolucionário, todos eles apertaram as fileiras para defender seus interesses de classe.
Os ataques contra os manifestantes finalmente serviram para desmascarar sua real natureza reacionária. Assim, a raiva das massas no Líbano também está dirigida contra Hezbollah, o xiita “Partido de Deus”, que posava de defensor dos pobres e oprimidos. Quando seu líder, Hassan Nasrallah, apoiou o governo libanês, os slogans nas ruas era “todos eles significam todos eles, Nasrallah é um deles!”
Finalmente, o primeiro-ministro. Saad Hariri, foi forçado a renunciar, dizendo que havia chegado a um “beco sem saída” após 13 dias de revolta.
The Independent comentou:
“Os protestos mergulharam a classe política do Líbano no caos. Pela primeira vez, a ordem política sectária que governou essa nação do Mediterrâneo oriental desde o final da guerra civil em 1990 está enfrentando um movimento de massas que visa sua derrubada”.
E continuou:
“O que começou como uma explosão espontânea de raiva devido a um novo conjunto de impostos rapidamente se transformou em algo maior. Em vez de atacar o governo ou qualquer líder político, os manifestantes acusaram de corrupta a classe política do Líbano em sua totalidade”.
Soa familiar? É claro! Esse é exatamente o mesmo processo que vimos no Equador e no Chile. Começando como um protesto de massas por demandas econômicas imediatas e concretas, o movimento rapidamente se transformou em “algo maior”. Ou seja, as massas, baseando-se em sua própria experiência, estão começando a tirar conclusões revolucionárias. O que se necessita não é desta ou daquela reforma mesquinha, mas de uma transformação radical: para derrubar “a classe política em sua totalidade”. Mas é exatamente isso o que significa uma revolução!
Iraque, Tunísia, Sudão…
Também no Iraque, várias ondas de protestos em massa, originárias das áreas xiitas, abalaram toda a estrutura política. Desde 1º de outubro, protestos massivos e radicais abalaram o país. Começando dessa vez em Bagdá, rapidamente se espalharam por todo o país. As forças armadas e a polícia iraquianas responderam com extrema violência, resultando na morte de pelo menos 150 pessoas (algumas fontes afirmam ser mais de 300) e com mais de 6 mil feridos. No entanto, a resposta brutal não deteve os protestos.
Na Tunísia, onda após onda de protestos em massa abalaram o país. E, na Argélia, um poderoso movimento revolucionário derrubou o enfermo Bouteflika e sacudiu o regime de cima abaixo. Na Argélia, o regime pensou que havia comprado uma paz social sustentável em 2011 depois de aumentar drasticamente o gasto do Estado.
No Sudão, vimos um movimento das massas com tremendo potencial revolucionário, que abalou os círculos dominantes de toda a região. A coragem e a determinação da juventude e, especialmente, das meninas e mulheres sudanesas foram realmente inspiradoras. A classe trabalhadora sudanesa emergiu para desafiar o regime lançando greves gerais, que colocaram a questão do poder.
O mesmo aconteceu na Argélia. Tudo isso mostra que a Revolução Árabe ainda possui enormes reservas sociais. Mas como se explica tal fenômeno? E o que representam? Observadores superficiais e empiristas ficam impressionados com os eventos que não previram e para os quais não têm nenhuma explicação. Os empiristas superficiais da burguesia só veem a superfície dos acontecimentos (os “fatos”). Não se preocupam em olhar sob a superfície para descobrir os processos mais profundos que estão em ação em todos os lugares.
O processo molecular da revolução
Trotsky disse uma vez que a teoria é a superioridade da previsão sobre o espanto. As manifestações súbitas e violentas de descontentamento popular sempre tomam de surpresa a burguesia e seus “especialistas” contratados. É assim porque os “experts” burgueses não têm nenhuma teoria (exceto a teoria de que toda teoria é inútil) e, portanto, ficam constantemente espantados quando os acontecimentos explodem em seus rostos.
Para se chegar a uma compreensão real desses processos subterrâneos, o método dialético de análise é absolutamente necessário. Os burgueses, naturalmente, não entendem a dialética; os reformistas ainda menos, se isso é possível. Não há nenhuma necessidade de se mencionar as seitas a esse respeito, uma vez que elas não entendem absolutamente nada. Sua completa falta de qualquer perspectiva é a principal razão por que estão todos em crise.
Trotsky cunhou uma frase realmente notável: “o processo molecular da revolução”. Vale a pena pensar um pouco nessa frase. Trotsky estava se referindo à dialética e, sem uma compreensão da dialética, não se pode entender nada. O processo de mudança na consciência das massas normalmente ocorre gradualmente. Cresce de forma lenta e imperceptível, mas também de forma inexorável, até alcançar um ponto crítico onde a quantidade se transforma em qualidade e as coisas se transformam em seu oposto.
Durante longos períodos, expressa-se como uma lenta acumulação de descontentamento, raiva, fúria e, acima de tudo, frustração, sob a superfície. Aqui e ali, há sintomas, pequenos sinais, que só podem ser entendidos por um observador treinado que pode ver o que significam. Mas este é um livro fechado com sete selos para o empirista de cabeça dura, que, embora sempre insista nos “fatos”, é cego para os processos subjacentes mais profundos.
O filósofo Heráclito expressou seu desprezo pelos empiristas quando escreveu com sarcasmo: “Olhos e ouvidos são péssimas testemunhas para homens que têm almas que não entendem seu idioma”. A Bíblia expressa a mesma ideia com palavras diferentes: “Olhos eles têm, mas não veem”. Não importa quantos fatos e estatísticas acumulem, sempre perdem o alvo.
Grã-Bretanha e França
Mudanças repentinas e bruscas estão implícitas na situação. Tais explosões repentinas são um sintoma da corrente subjacente de fúria e descontentamento acumulados de milhões de pessoas, que na realidade é dirigida contra o sistema. São um claro sintoma de que o sistema capitalista chegou a um beco sem saída em escala global.
Algumas pessoas podem tentar argumentar que desenvolvimentos revolucionários, como os que aqui citamos, são apenas possíveis em nações pobres economicamente subdesenvolvidas. Mas isso é totalmente falso. A dialética nos ensina que, mais cedo ou mais tarde, as coisas se transformam em seu oposto.
Um excelente exemplo disso é a Grã-Bretanha. Há exatamente quatro anos, a Grã-Bretanha era considerada o país mais estável da Europa, talvez do mundo – agora foi completamente virada de cabeça para baixo e é provavelmente o mais instável país da Europa. A “mãe dos parlamentos” já foi famosa por sua calma serenidade, mas de repente foi convulsionada por crises e divisões. Em vez de serenidade, houve cenas de absoluto caos.
A sociedade britânica está fortemente polarizada de maneira não vista há muito. É essa polarização o que mais alarma a classe capitalista e seus apologistas ideológicos. Estão alarmados porque têm pouca consciência do fato de que tal polarização contém dentro de si os germes de futuros desenvolvimentos revolucionários.
Desde a crise de 2008-09, houve um processo lento e gradual de acumulação de descontentamento. Isso representou uma ruptura fundamental em toda a situação internacionalmente. E foi uma ruptura em todos os sentidos da palavra. Agora, podemos ver o processo molecular da revolução sobre o qual Trotsky falou. É um processo silencioso e invisível. É algo intangível. Não se pode colocar o dedo nele porque ocorre sob a superfície. Mas está lá o tempo todo, escavando como uma toupeira.
No passado, o povo britânico era considerado como intrinsecamente conservador e organicamente impermeável a qualquer tipo de impulsos revolucionários. Tinha sólidas instituições que agiam como baluartes inexpugnáveis contra a revolução: o Parlamento, a Casa dos Lordes, a Monarquia e o Estado de Direito. As pessoas tinham respeito por essas instituições, que garantiam a paz social e a estabilidade política.
Agora, todas essas consoladoras ilusões foram destruídas. A velha fé confiante na democracia parlamentar foi fatalmente minada. Há uma desconfiança crescente nos políticos e desprezo pela elite de Westminster. Isso é muito perigoso para a classe dominante. Se as pessoas não se contentarem mais em entregar a responsabilidade por suas vidas e destinos à casta de políticos profissionais e aos burocratas (“a gente sabida”), poderão um dia decidir tomar o assunto em suas próprias mãos. Foi exatamente o que aconteceu, não faz muito tempo, na França.
Em novembro de 2018 o movimento dos gilets jaunes surgiu de repente, aparentemente do nada, quando números enormes de pessoas comuns e correntes tomaram as ruas. Isso mostrou com clareza que existe um potencial revolucionário. Inclusive o Brexit, de maneira peculiar, mostra o mesmo processo. Em muitos outros países existe o mesmo sentimento: um profundo estado de ânimo contra o establishment. Mas também vimos como a chamada esquerda fracassou totalmente em proporcionar qualquer expressão organizada a esse estado de ânimo revolucionário.
A Catalunha também viu um explosivo movimento de protesto em outubro após a sentença dos prisioneiros políticos, que estão atualmente presos devido a sua participação na organização do referendo da independência em 2017. As duras sentenças de prisão (totalizando mais de 100 anos) pelo “crime” de exercer um direito democrático, foram recebidas com uma explosão de fúria e raiva, com centenas de milhares de pessoas indo às ruas, bloqueando estradas, linhas ferroviárias e o aeroporto de Barcelona.
Diante da brutal repressão policial, dezenas de milhares de manifestantes, principalmente jovens, se defenderam e reagiram, com barricadas em chamas e batalhas diárias durante toda uma semana. Uma greve geral ocorreu em 18 de outubro, durante a qual uma enorme multidão desceu sobre Barcelona, organizada em cinco diferentes colunas que marcharam a pé de distintas partes da Catalunha. Os partidos nacionalistas pequeno-burgueses que haviam estado na vanguarda do movimento por uma República Catalã estão cada vez mais desacreditados, mas nenhuma liderança alternativa foi proporcionada.
Esses são os abalos que anunciam o terremoto que se aproxima. O clima de descontentamento das massas, não encontrando reflexo nas organizações de massa tradicionais, expressa-se de distintas formas em diferentes países. Mas o fundamental é o processo irresistível de radicalização das massas em escala global, que se expressa em violentas oscilações à esquerda e à direita. O processo de radicalização se intensificará com o desenrolar da crise, provocando uma polarização ainda mais acentuada entre as classes e abrindo o caminho para explosões revolucionárias ainda maiores.
A situação atual e as tarefas dos Marxistas
Por sua própria natureza, os Marxistas são otimistas, mas nosso otimismo não é algo falso ou artificial. Baseia-se em análises e perspectivas sólidas. Baseamo-nos na rocha sólida da teoria Marxista. Nossa organização pode se orgulhar do fato de termos permanecido absolutamente firmes nos princípios fundamentais e no método dialético, o que nos permite penetrar sob a superfície e ver os processos mais profundos em ação.
O período através do qual estamos passando será visto como um momento de mudança fundamental, como um ponto de inflexão de toda a situação. Não há muito tempo, essa afirmação parecia ser contradita pelos fatos. A economia mundial parecia estar avançando e, de fato, os economistas burgueses destacam que esta é a mais longa recuperação da história. Mas, agora, os acontecimentos estão se acelerando a uma velocidade impressionante. Somente o método dialético do Marxismo pode proporcionar uma explicação racional dos processos para os quais os desesperados empiristas burgueses estão completamente cegos.
De muitas maneiras a atual situação se assemelha ao declínio e queda do Império Romano. Os banqueiros e capitalistas estão constantemente exibindo sua riqueza e luxo. Os 1% mais ricos do mundo estão a caminho de controlar até 2/3 da riqueza do mundo até 2030, já que estão sentados em trilhões de dólares que não investem na atividade produtiva. A classe dominante é parasitária e completamente degenerada. Isso está alimentando o fogo da raiva e do ressentimento em todos os lugares.
Há um enorme potencial para a difusão das ideias Marxistas. Essa é a principal coisa em que devemos nos concentrar. Devemos discutir os fundamentos: não os incidentais, mas a tendência geral. Qual é o fio comum em todas essas situações? Extrema polarização política e social. A luta de classes está em ascensão em todos os lugares.
Estamos crescendo e nos desenvolvendo – mas somos pequenos demais para, no futuro imediato, sermos um fator decisivo no desenvolvimento dos acontecimentos. De nosso ponto de vista, não seria uma coisa má se as situações revolucionárias decisivas fossem adiadas por um tempo, pela simples razão de que ainda não estamos prontos. Necessitamos de tempo para construir a alternativa revolucionária.
A história se move em seu próprio ritmo e não esperará por ninguém. Em um período como o atual, eventos gigantescos podem ocorrer antes de que estejamos preparados. Viradas agudas e repentinas estão implícitas na situação. Devemos estar preparados para enfrentar grandes desafios. Os melhores trabalhadores e jovens já estão abertos às nossas ideias. Devemos encontrar o caminho para essas camadas e dar as costas de forma decisiva aos elementos velhos, cansados e desmoralizados. Todos os vestígios de ceticismo e rotina devem ser eliminados de nossas fileiras, que devem estar inspiradas, de cima abaixo, com um espírito de urgência.
Esta é realmente uma corrida contra o relógio. Grandes acontecimentos podem nos ultrapassar. Devemos estar preparados. Portanto, devemos construir nossa organização e recrutar e treinar pessoas o mais rápido possível. Esse é o único caminho para o êxito. Já entramos nessa estrada. Não se deve permitir nada que nos distraia dessa tarefa. Que nosso lema seja:
Viva a revolução socialista mundial!