Este artigo de Jorge Martín e Fred Weston foi publicado no dia 22 de fevereiro, depois da decisão da Rússia de reconhecer a independência das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk.
O presidente russo, Vladimir Putin, reconheceu a independência das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk (DPR e LPR), no sudeste da Ucrânia, e enviou tropas russas de “manutenção da paz” para ambos os territórios. Isso representa uma escalada significativa do conflito entre a Rússia e o imperialismo ocidental. Que interesses estão por trás do conflito e qual deve ser a posição do movimento trabalhista internacional?
O Ocidente já anunciou que responderá com as sanções econômicas anteriormente estipuladas. O imperialismo dos EUA, a OTAN, a União Europeia e o Reino Unido reclamaram que as decisões de Putin são uma “violação da soberania da Ucrânia” e um “flagrante desrespeito às leis e normas internacionais”. Isso é completamente hipócrita. Os países que agora denunciam as ações da Rússia tomaram exatamente os mesmos tipos de medidas antes.
Não esqueçamos que foi o imperialismo ocidental que pressionou pela dissolução da Iugoslávia em 1992. Não se falava então em “soberania nacional", e a razão era clara: era do seu interesse desmembrar a ex-Iugoslávia para recuperar antigas esferas de influência. Foi um movimento completamente reacionário que desencadeou a guerra civil e a limpeza étnica no coração da Europa.
Hipocrisia
O imperialismo dos EUA e seus parceiros europeus menores agora falam sobre a necessidade de a Rússia respeitar a “soberania nacional”, apresentando-se como defensores da democracia e dos direitos humanos. Devemos esquecer o fato de que eles não tiveram escrúpulos no passado em bombardear e invadir países soberanos? Eles são especialistas em organizar golpes militares e geralmente se intrometem nos assuntos de outros países – quando convém aos seus interesses. Vimos isso do Iraque ao Afeganistão, de Honduras à Venezuela, da Líbia à Somália e há uma longa lista de outros exemplos. E quando isso não atende aos seus interesses, eles fecham os olhos. Vemos isso atualmente no Iêmen, onde a Arábia Saudita teve permissão para esmagar uma nação inteira e matar milhões de fome. Isso porque a Arábia Saudita é amiga do imperialismo ocidental, enquanto a Rússia não o é!
Do ponto de vista dos interesses dos trabalhadores de todos os países, não devemos nos deixar enganar pelo jogo que está sendo lançado sobre “quem começou”, ou sobre quem é o culpado pelo conflito atual. Há aspirações imperialistas de ambos os lados. Desde o colapso da União Soviética em 1991, o imperialismo dos EUA e seus aliados europeus da OTAN vêm invadindo o que antes era uma esfera de influência russa, gradualmente trazendo países do Leste Europeu para sua aliança.
A Ucrânia é uma candidata a futura adesão, e é bastante claro para qualquer um com olhos na cara ver que a expansão da OTAN visa conter as ambições imperialistas russas na região. Ou seja, é um meio de limitar a classe capitalista russa e promover os interesses do imperialismo ocidental. Se a OTAN não tivesse insistido em expandir-se para o leste, não estaríamos diante da possibilidade de outra guerra na Europa. Mas isso é o mesmo que dizer: se a OTAN não fosse uma aliança de potências capitalistas, para promover seus próprios interesses, não estaríamos nesta posição. O capitalismo é um sistema que inevitavelmente cria a guerra em determinado ponto. Quando as relações normais não são suficientes, quando a “competição pacífica” não serve mais aos interesses das classes dominantes nacionais, então a guerra se torna a próxima opção.
As várias “revoluções coloridas” que vimos nos países do Leste Europeu desde 1989-91 não foram expressões da vontade do povo desses países. Em vez disso, foram o resultado de manobras do Ocidente para estabelecer regimes que facilitariam o desmantelamento do que restava da propriedade do Estado, ganhar o controle dos mercados locais e ampliar sua esfera de influência, enquanto afastava a influência da Rússia. Portanto, este não é um conflito entre um Ocidente “democrático” e um Putin “ditatorial”, mas uma luta entre duas potências imperialistas opostas pelo controle de uma região. E todas as vezes que o imperialismo ocidental age de forma agressiva, sempre tenta colocar a culpa no outro, apresentando-se como uma força de “paz e democracia”.
A ironia da situação é que, ao realizar essa manobra, Putin parece ter seguido uma cartilha escrita por Washington, até nos detalhes, como, por exemplo, descrever as tropas russas que entram no Donbass como “mantenedoras da paz”. Ele parece estar imitando o comportamento do imperialismo dos EUA quando este usou cinicamente a situação dos albaneses kosovares para bombardear a Sérvia, um tradicional aliado da Rússia. Agora Putin está usando cinicamente a situação do povo de língua russa do Donbass para contra-atacar a Ucrânia e o Ocidente em geral, enquanto os EUA e as potências europeias derramam lágrimas de crocodilo sobre a violação da “lei internacional”, um conceito sem real significado. As relações internacionais na época do imperialismo não são regidas pela lei, mas pelo poderio econômico e militar.
Em seu longo discurso justificando o reconhecimento da DPR e da LPR, Putin deixou clara a ideologia reacionária e chauvinista por trás dessa intervenção. Ele falou sobre a Ucrânia ser uma nação artificial lavrada do corpo da Rússia por Lenin e os bolcheviques. “A Ucrânia moderna foi completamente criada pela Rússia, ou para ser mais exato, pela Rússia comunista bolchevique”, disse ele. “Lenin e seus apoiadores fizeram isso de maneira grosseira, alienando os territórios históricos da Rússia. Milhões de pessoas que vivem lá não foram consultadas.” Ele acrescentou que “agora descendentes agradecidos demoliram monumentos a Lenin na Ucrânia. Isso é o que eles chamam de descomunização. Você quer a descomunização? Bem, isso nos convém. Mas você não deve parar no meio do caminho. Estamos prontos para mostrar a você o que a descomunização genuína significa para a Ucrânia”. Com isso ele estava deixando claro que seu modelo é o da Rússia Imperial. E ao fazê-lo, ele está questionando a própria existência da Ucrânia, que ele considera “criação de Lenin”.
É bastante claro que os movimentos de Putin não são motivados pela situação dos russos étnicos na Ucrânia, nem pelo povo do Donbass, mas sim pelos interesses da classe capitalista russa, que estão ansiosos para reafirmar o papel da Rússia como potência. A escalada de Putin reflete os interesses de segurança nacional da Rússia capitalista: um poder agressivo e reacionário com ambições imperialistas regionais, que vimos exibidos na Geórgia, no conflito Armênia-Azerbaijão, na Bielorrússia e no Cazaquistão, bem como sua intervenção na Síria. Também tem a ver com a necessidade de Putin de fortalecer sua popularidade em casa – que está em declínio como consequência dos crescentes problemas sociais e aumento dos níveis de pobreza na Rússia.
Por que Putin agiu assim?
As motivações e ambições de Putin ficaram claramente exibidas e abertamente declaradas. Em sua carta à OTAN, ele exigiu garantias de segurança para a Rússia na Europa. Estas incluíam a garantia de que a Ucrânia nunca se juntaria à OTAN, a redução dos exercícios militares na fronteira com a Rússia e a não implantação de mísseis de médio alcance. Esta foi uma resposta à expansão da OTAN para o leste após o colapso do stalinismo há 30 anos. Naquela época, a economia da Rússia estava despedaçada e o imperialismo dos EUA aproveitou para consolidar seu domínio sobre a Europa Oriental. Agora, a Rússia, sentindo um declínio relativo do poder de Washington (particularmente após sua ignominiosa retirada do Afeganistão), está reagindo.
A relativa fraqueza dos EUA foi revelada desde o início deste confronto. Apesar de toda a conversa sobre uma “invasão iminente”, desde o início o presidente dos EUA, Joe Biden, deixou claro que não enviaria tropas americanas para a Ucrânia. Isso se seguiu à inação do Ocidente após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014. Putin recebeu a mensagem em alto e bom som: ele poderia fazer o que quisesse em relação à Ucrânia, com consequências limitadas, algumas sanções econômicas, mas sem retaliação militar.
Trata-se, portanto, fundamentalmente de um conflito reacionário entre duas potências. Por um lado, o imperialismo dos EUA – ainda de longe a força mais poderosa e reacionária do planeta – e seus aliados. Por outro lado, temos as ambições imperialistas regionais reacionárias da Rússia. A classe trabalhadora do mundo não tem nada a ganhar apoiando qualquer um dos lados.
Desde o início, Putin tentou atingir seus objetivos flexionando a força militar da Rússia, reunindo tropas na fronteira, realizando exercícios militares conjuntos com a Bielorrússia, testando seus mísseis etc., ao mesmo tempo em que tentava, com algum sucesso, exacerbar as divisões entre os EUA e seus aliados europeus em Berlim e Paris. Vale a pena notar que, em seu último movimento, ele deu um aviso prévio ao presidente francês Emmanuel Macron e ao chanceler alemão Olaf Scholz, mas não a Biden.
Ele insistiu o tempo todo que queria negociações, dentro de seus termos, e que o Ocidente pressionasse o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky para implementar os acordos de Minsk, negociados em 2014 e 2015. Em relação à Ucrânia, esse teria sido seu resultado preferido. Os acordos de Minsk preveem que as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk permaneçam parte da Ucrânia, embora tenham um status autônomo especial. Isso teria dado a Putin uma influência permanente dentro do país. Ele também poderia ter calculado que se Zelensky concordasse com esses termos (que Poroshenko havia assinado quando sua ofensiva contra o Donbass entrou em colapso), ele enfrentaria a ira dos nacionalistas de extrema direita e de seus batalhões militares, talvez até com a derrubada de seu governo.
Aliás, isso mostra que, para Putin, as Repúblicas Populares são apenas pequenas peças que ele está disposto a sacrificar para alcançar seus objetivos. Não esqueçamos que o levante de Donbass, em 2014, fez parte de um movimento mais amplo em resposta à chegada ao poder na Ucrânia de um governo apoiado por organizações paramilitares neonazistas e promovendo uma marca particularmente reacionária do nacionalismo ucraniano, que era profundamente anti-russa e reivindicava a tradição dos colaboradores nazistas da Segunda Guerra Mundial.
Naquela época, todos os tipos de elementos se aglutinavam nas duas repúblicas orientais, desde alguns que se declaravam abertamente comunistas, até aqueles cuja identidade era modelada pela resistência soviética contra os nazistas, a alguns chauvinistas abertamente reacionários da Grande Rússia com nostalgia do império russo.
Ao longo de certo período de tempo, no entanto, as repúblicas tornaram-se completamente dependentes de Moscou, econômica e militarmente; seu pessoal de liderança foi expurgado dos elementos mais independentes e plebeus. Quando solicitados por Putin, os líderes das duas repúblicas decretaram a evacuação de civis, juntamente com a mobilização de todos os homens em idade de lutar, e depois viajaram para Moscou para pedir reconhecimento, o que, é claro, Putin respeitosamente concedeu.
Assim, o reconhecimento de sua “independência” pela Rússia não tem sentido, pois já são completamente dependentes de Moscou. A única mudança real é que Putin declarou que eles não fazem mais parte da Ucrânia.
O que mudou?
Em resposta às demandas de Putin, ao longo da linha, os Estados Unidos adotaram uma postura beligerante, denunciando constantemente uma invasão russa “iminente” da Ucrânia e se recusando a fazer qualquer concessão às suas demandas. Quando você é o grande valentão no pátio da escola, não pode ser visto mostrando qualquer fraqueza, caso contrário, todos sentirão que podem desafiar sua posição. Assim, enquanto Biden não estava disposto e era incapaz de enfrentar a Rússia com uma ação militar sobre a Ucrânia, ao mesmo tempo ele não podia ser visto fazendo concessões. Foi esse impasse que levou à escalada atual.
Putin calculou claramente que, apesar de todas as suas palavras ferozes, os imperialistas ocidentais são impotentes para detê-lo. A resposta do Ocidente até agora tem sido o anúncio de vários níveis de sanções à Rússia. As sanções da UE são direcionadas a qualquer pessoa que negocie com as duas repúblicas separatistas. O problema, claro, é que todos os 27 estados membros da UE têm que concordar, e há opiniões claramente diferentes entre eles, com países como Itália, Áustria e Alemanha muito preocupados com o fornecimento de gás. A Rússia fornece 40% do consumo de gás da UE e em toda a Europa já há ressentimento e raiva crescentes com o enorme aumento nas contas de energia que milhões de pessoas estão enfrentando este ano. Os últimos desenvolvimentos estão elevando ainda mais o preço do gás, juntamente com o do petróleo bruto, do qual a Rússia é um grande produtor.
O primeiro-ministro britânico Boris Johnson precisa realmente de uma distração de seus próprios problemas domésticos, já que sua popularidade despenca nas pesquisas de opinião em condições de crescente descontentamento social. Ele tem feito muito barulho sobre a defesa da Ucrânia e agora anunciou que a Grã-Bretanha congelará os ativos de três oligarcas russos, além de impor sanções a cinco bancos russos.
Enquanto isso, Biden anunciou sanções que proibiriam novos investimentos, comércio e financiamento por pessoas dos EUA com as áreas na Ucrânia agora sob o controle de separatistas apoiados pela Rússia. Mas Thomas Graham, diretor do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca para a Rússia sob George W. Bush, afirmou que essas sanções “... não terão muito impacto, se é que terão", no que a Rússia vai fazer a seguir. Seriam muito semelhantes às sanções impostas à Rússia depois de anexar a Crimeia em 2014, com impacto semelhante em Putin, ou seja, muito pouco!
Putin entende a fraqueza do regime ucraniano. Mas agora que ele enviou forças para as duas repúblicas, o que acontecerá a seguir? É difícil dizer quais serão os próximos movimentos. A guerra é a mais complicada das equações e, uma vez iniciada, não se pode dizer qual será o resultado final. Putin terá que fazer um balanço de cada reviravolta e calcular seu próximo movimento de acordo com isso.
Em artigos anteriores, consideramos uma guerra total entre a Rússia e a Ucrânia como a perspectiva menos provável. Então o que mudou? Putin estava calculando que os EUA e os europeus fariam concessões em vez de enfrentar a possibilidade de uma guerra extremamente desestabilizadora na Europa. Ele estava pressionando para que o acordo de Minsk fosse implementado. Mas a aliança da OTAN, dominada pelo imperialismo norte-americano, como vimos, mostrou-se incapaz de recuar e atender às exigências de Putin. Na opinião deles, quaisquer concessões agora fortaleceriam a Rússia, que é precisamente o que eles querem evitar. Os Estados Unidos, em particular, recusavam-se a ceder na questão da expansão da OTAN.
Isso colocou Putin na posição de agir de acordo com suas ameaças ou ter que baixar o tom. Suas ameaças anteriores haviam falhado, então sua única opção era aumentar a aposta e encontrar a desculpa de que precisava para enviar tropas para as duas repúblicas separatistas. A vantagem que ele tem ao enviar forças para as duas repúblicas é que muitas das pessoas dali darão as boas-vindas às tropas russas. E uma vez capturado, ele poderia usar sua presença no território para negociar de uma posição mais forte. Se Putin invadisse toda a Ucrânia, no entanto, isso poderia ser sua ruína, pois ele enfrentaria todo um povo que se opõe a ser dominado pela Rússia.
Não à guerra! O inimigo está em casa!
É claro que Putin estava pressionando para que o Ocidente se sentasse à mesa e fizesse as concessões que ele exigia, mas o Ocidente – em particular os Estados Unidos, apoiados por seus poodles no governo britânico – recusou. Isso explica por que, no final, Putin decidiu que não tinha outra opção a não ser aumentar o nível de tensão. Ele se limitará a manter os territórios das duas repúblicas separatistas ou avançará ainda mais para a Ucrânia?
Leonid Kalachnikov, chefe do Comitê da Duma de Estado para os Assuntos da CEI, apontou que as Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk foram reconhecidas como pertencentes às regiões de mesmo nome – os separatistas controlam apenas uma parte dessas regiões. Portanto, eles poderiam alegar que seu estado se estende aos territórios restantes. Kalachnikov afirmou que “a forma como essas fronteiras serão restauradas não está prevista neste acordo. O que o LPR e o DPR farão para isso não é mais de nossa competência.”
Isso deixa claramente em aberto a opção de ir além dos atuais territórios separatistas, abrindo o possível cenário de um conflito direto entre as forças ucranianas e russas. O Ocidente já está começando a impor sanções, então o que mais a OTAN poderia fazer se Putin avançar ainda mais na Ucrânia para derrubar o atual regime? De um ponto de vista puramente militar, a Rússia poderia derrotar a Ucrânia com bastante facilidade e nenhuma potência europeia expressou a intenção de realmente se envolver no terreno com seus próprios soldados. Mas enquanto há simpatia pela presença das forças russas entre o povo das repúblicas separatistas, seria um cenário muito diferente para Putin se ele avançasse para o coração da Ucrânia, onde encontraria oposição generalizada e em massa. Isso tornaria qualquer ganho territorial extremamente difícil e caro de manter.
O governo de Kiev estará agora sob enorme pressão. Do seu ponto de vista, o território da Ucrânia foi formalmente invadido, mas não há muito o que fazer. A Crimeia foi anexada há oito anos e continua a fazer parte da Federação Russa, apesar das sanções impostas à Rússia. A última vez que Kiev travou uma guerra no Donbass foi derrotada e ninguém veio em seu auxílio. A Ucrânia convocou uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU, mas é duvidoso que esse órgão sequer denuncie as ações da Rússia, visto que a Rússia tem direito de veto. Enquanto isso, a impotência de Zelensky pode derrubar seu governo fraco em algum momento.
Além disso, subjacente à relativa fraqueza do imperialismo dos EUA, sua primeira resposta prática foi a remoção de todo o pessoal restante do Departamento de Estado da Ucrânia e a mudança de sua embaixada na Ucrânia, que já havia sido transferida de Kiev para Lviv... para a Polônia! Deve ter sido muito reconfortante para Zelensky ver até que ponto o mestre de marionetes em Washington está preparado para defender a Ucrânia da agressão russa.
O que está claro é que o objetivo de Putin, em última análise, permanece o mesmo: que a Rússia seja reconhecida como uma potência regional e tenha garantias de que seu “exterior próximo” não representará uma ameaça aos seus interesses. É improvável que ele desista do território das repúblicas de Donetsk e Lugansk agora que se moveu, mas pode ir mais longe. Esta é uma situação em curso que terá de ser acompanhada de perto.
Do ponto de vista da classe trabalhadora da Ucrânia e da Rússia, nada foi resolvido e nada foi ganho. Quando Putin disse que a Ucrânia foi criação de Lenin, ele não estava correto, é claro, já que a complexa identidade nacional da Ucrânia existia antes de 1917. Mas foi a cuidadosa política de Lenin de autodeterminação nacional – uma questão sobre a qual enfrentou Stalin – o que permitiu a união da Ucrânia soviética com a Rússia soviética em base voluntária igual, como foi reconhecido na criação da URSS em 1922, exatamente há 100 anos. Somente nesse sentido, pode-se dizer que a Ucrânia, com suas atuais fronteiras, foi criada por Lenin, e agora foi destruída por nacionalistas ucranianos reacionários que chegaram ao poder após o Euromaidan.
Os trabalhadores da Ucrânia e da Rússia estão ligados por fortes laços históricos, embora estes tenham sido enfraquecidos pelo veneno do nacionalismo reacionário ucraniano e do chauvinismo da Grande Rússia, principalmente desde 2014. O país está atolado em uma guerra civil e milhões foram forçados a emigrar por causa da crise econômica.
O único caminho para a classe trabalhadora é a derrubada da oligarquia capitalista parasitária, que governou o país como seu feudo privado nos últimos 30 anos, e a expropriação de sua riqueza. Somente sobre a base de que os trabalhadores cheguem ao poder, a Ucrânia pode realmente ser livre, com a classe trabalhadora unida de forma voluntária, acima das barreiras linguísticas e de identidade nacional.
O principal dever dos trabalhadores no Ocidente é se opor às nossas próprias classes dominantes imperialistas reacionárias, que estão alimentando as chamas do conflito. A principal tarefa dos trabalhadores na Rússia é se opor à sua própria classe dominante reacionária, que está impulsionando as ambições de poder regional de Putin. O principal dever dos trabalhadores da Ucrânia é se opor à sua própria oligarquia capitalista, que mergulhou o país em um conflito civil, enquanto esconde sua riqueza ilícita no exterior.
Guerra nos palácios, paz nas cabanas!