Carta de uma participante no movimento Ocupar Wall Street

Trazemos abaixo a carta de uma estudante da Universidade de Nova Iorque (NYU), Cecília Gingerich, que participou da Universidade da Sociedade Marxista de Londres na primavera de 2010. Ela é agora uma participante no Ocupar Wall Street

Em sua carta Cecília fornece, em primeira mão, sua experiência no movimento. Ela descreve como escapou por pouco da prisão em massa de 700 manifestantes em 1º de Outubro e qual foi o impacto que isso teve no movimento nos dias seguintes. Agora, os sindicatos, juntos com os estudantes das escolas de ensino médio e universidades se uniram aos manifestantes no Wall Street. Cecília tem participado no movimento junto com os estudantes da universidade onde estuda.

Aos Membros da Universidade da Sociedade Marxista de Londres

Já se passaram vinte e três dias desde que o grupo conhecido como Ocupar Wall Street montou acampamento no distrito financeiro da cidade de Nova Iorque. Ele começou quando algumas centenas de jovens que, recusando a aceitar um futuro de desemprego por tempo indeterminado e dívidas, decidiram ocupar uma praça próxima ao Wall Street. Desde então o movimento tem crescido em tamanho e diversidade. Ocupações similares apareceram em cidades em todo o país e receberam apoio de muitos sindicatos importantes.

A mídia e o governo federal estão encontrando crescentes dificuldades para conter ou ignorar estas manifestações democráticas de descontentamento.

Meu primeiro contato direto com o movimento ocorreu em 24 de Setembro, uma semana depois do início das ocupações. Deparei-me com um comício de manifestantes na Union Square (Praça da União). Eles haviam caminhado desde a Wall Street. Assisti horrorizada os atos que, apenas alguns minutos depois, transformaram sua manifestação pacífica em caos e violentas prisões.

Ficou claro ali que a administração do Departamento de Polícia da Cidade de Nova Iorque não simpatizava com a manifestação, e isso me levou a suspeitar de um iminente conflito quando eu testemunhei oficiais da polícia carregando algemas de plástico antes de uma marcha na semana seguinte. Só mais tarde eu descobri que, por poucos minutos, havia escapado das prisões em massa de mais de 700 manifestantes na Ponte do Brooklyn.

O uso excessivo da força pelo Departamento de Polícia serviu apenas para chamar mais atenção sobre o movimento, logo centenas de pessoas passaram a estar presentes diariamente nas Assembléias Gerais em Nova Iorque e em outras cidades.

A grande mídia prazerosamente informava a “confusão” dos manifestantes, fornecendo listas de exigências que iam desde o fechamento ao fim do setor financeiro como um todo. Para uma marxista – e parece que para a maioria dos manifestantes – era obvio que o que estava sendo coletivamente contestado era o próprio sistema: capitalismo e todas as suas consequencias.

O termo “luta de classe” começou a ressurgir e o grito mais popular dos manifestantes “Nós somos os 99%” sugere uma crescente consciência de classe que, por décadas tem estado ausente no país.

Mas ainda há necessidade de lideranças e melhorar a organização

O vazio foi parcialmente corrigido em 5 de Outubro quando estudantes universitários e sindicatos de toda a cidade de Nova Iorque participaram em um Ato solidário com milhares de manifestantes. Os estudantes fizeram uma paralisação saindo das aulas à tarde com um contingente da minha própria universidade que é privada, saíram mais de mil participantes. Fiquei agradavelmente surpresa pela organização do evento que claramente identificou a necessidade de reunir estudantes e movimento dos trabalhadores. Em nosso banner que esta na frente da caminhada lia-se: “Estudantes e Trabalhadores Unam-se!” No dia 11 de outubro um grupo de estudantes da minha universidade ajudará a manter este relacionamento vivo participando de greves locais.

Ontem, um homem egípcio de nome Mohammed discursou para uma multidão de alguns milhares em uma Assembleia Geral especial realizada na Praça Washington Square. Ele participou da revolução egípcia na última primavera, e clamou agora pelo fim da “dominação capitalista”.

Enquanto o futuro do movimento permanece incerto, eu não posso fazer nada além de ter esperança. Em certo momento em seu discurso Mohammed citou Karl Marx, dizendo que nós “não temos nada a perder a não ser nossas correntes”.

Pelo que me lembro estas palavras foram sendo repetidas ao meu redor em um “microfone humano” composto por milhares de vozes, estou animada para ver o que o futuro pode trazer.

Em solidariedade à Primavera Árabe, ao Verão Europeu, e ao Outono Americano!

Cecília Gingerich

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