Membro proeminente do establishment capitalista diz: Marx estava certo! Uma década após o início da crise, a classe dominante está cada vez mais preocupada.
“O Governador do Banco da Inglaterra advertiu que a enorme perda de empregos ocasionada pela tecnologia pode ressuscitar o marxismo no Ocidente”, anunciou o Daily Telegraph recentemente.
“Mark Carney disse que a esperada automação de milhões de empregos de colarinho azul e branco, trazendo consigo um crescimento salarial débil para os que trabalham, pode levar as ideias por trás do Comunismo a ganhar novos adeptos”, continuou sombriamente o jornal, sem dúvida produzindo um choque no coração de seus mais ricos leitores.
Isso é algo sério. Mark Carney não é nenhum revolucionário de sangue vermelho. Em sua posição como chefe do Banco da Inglaterra, ele é um destacado representante da classe dominante e um defensor chave do sistema capitalista. No entanto, ele acredita que o capitalismo está minando a si próprio, destruindo empregos e criando uma desigualdade obscena.
Em consequência, Carney agora afirma, “Se este mundo de trabalho excedente passar, Marx e Engels podem se tornar relevantes de novo”.
Depois de ataques constantes às ideias de Marx, esta é realmente uma declaração notável.
Carney está soando atrasado os alarmes do capitalismo. Ele está advertindo à classe dominante: Perigo à vista! Você precisa acordar! A reação contra o capitalismo está provocando sentimentos revolucionários.
Ironicamente, somente agora a ficha caiu para o nosso principal banqueiro, dez longos anos depois da maior recessão desde a Depressão. A crise e as contradições do capitalismo já estão criando uma oposição em larga escala ao sistema, resultando em um renascimento do Marxismo e das ideias Marxistas na Grã-Bretanha e internacionalmente.
A História se repete
Há 150 anos, a produtividade se elevou à medida que a nova tecnologia acelerava o ritmo da fabricação. Mas os salários médios estagnaram durante décadas, na medida em que a introdução de máquinas significava que apenas empregos de baixa qualificação eram agora criados.
“Os trabalhadores geralmente não podem se deslocar facilmente de um tipo de trabalho para outro em que possam ser tão produtivos”, disse Carney na Cúpula de Crescimento do Canadá, “de forma que os benefícios, na perspectiva de um trabalhador da primeira revolução industrial, que começou na segunda metade do século XVIII, não se sentiram plenamente na produtividade e nos salários até a segunda metade do século XIX”.
O chefe do Banco da Inglaterra notou que essa estagnação dos salários é conhecida como “a pausa de Engels”.
Carney acredita que os recentes anos de fraco crescimento salarial desde a crise capitalista podem indicar que a experiência do século XIX está se repetindo neste momento. De fato, está.
O Governador advertiu que, “Se substituis plataformas computacionais por fábricas têxteis, machine learning [relativo à inteligência artificial – NDT] por máquinas a vapor, o Twitter pelo telégrafo, tens exatamente a mesma dinâmica que existia há 150 anos – quando Karl Marx estava rabiscando o Manifesto Comunista”.
Hoje, os salários reais ainda estão caindo dramaticamente. Os padrões de vida estão sendo espremidos como nunca. Estes ataques estão atingindo especialmente as pessoas jovens, que enfrentam um futuro cada vez mais incerto.
Segundo a Living Wage Foundation, mais de um de cada três pais que trabalham não podem mais se permitir ter refeições regulares. Duas de cada cinco pessoas deixam de pagar a tempo as contas domésticas. Um terço de nós agora caminha para o trabalho para evitar o aumento dos custos do transporte. O número de pessoas envolvidas em contratos de zero-hora está se aproximando rapidamente da marca de dois milhões.
E, com lucros maiores indo para os que possuem as fábricas, e não para os trabalhadores, a desigualdade está aumentando ainda mais.
Decadência terminal
Os estrategistas do capital estão ficando cada vez mais alarmados. O Fundo Monetário Internacional (FMI) está preocupado com os níveis excepcionalmente altos da dívida. Estes são agora superiores aos do pico anterior de 2009.
O FMI também adverte que as pessoas estão perdendo a fé em seus governos. O otimismo público está sendo “erodido” pelas “tendências de longo prazo da polarização salarial e trabalhista, junto ao crescimento persistente e insignificante dos salários médios”, disse o Senhor Obstfeld, do FMI.
O marxismo está, certamente, se tornando mais atraente nesses dias. Isto é assim porque o sistema capitalista, como Marx explicou há muito, se encontra em crise profunda.
Marx explicou como o capitalismo não pode ser reformado (como alguns ainda acreditam), devido às leis do capitalismo e à acumulação. O capitalismo se baseia na busca de lucros maiores. Os lucros, no entanto, somente podem vir do trabalho não-pago da classe trabalhadora.
Marx destacou que a jornada de trabalho pode, de fato, ser dividida em duas partes. Parte do tempo o trabalhador trabalha para produzir valor suficiente para cobrir seus salários. No restante do tempo ele produz mais-valia (isto é, lucros) para o patrão.
O problema é que os trabalhadores não podem comprar de volta com seus salários o valor total produzido por seu trabalho. Os capitalistas tentam contornar esta contradição investindo a mais-valia de volta na produção. Isto permite que o sistema continue a se expandir – mas somente pelo crescimento da capacidade produtiva. Isto, eventualmente, leva a uma crise de superprodução, como vimos em 2008.
O sistema capitalista, que desempenhou um papel progressista no passado distante, agora se exauriu. Alcançou seus limites e se encontra em decadência terminal.
Apesar dos melhores esforços dos economistas atuais, eles não podem trazer de volta a Mamãe Gansa capitalista [personagem que aparece em muitas obras literárias, sendo uma das mais famosas “Alice no País das Maravilhas – NDT]. O sistema continua a coxear, mas somente à custa da classe trabalhadora.
Até mesmo os avanços tecnológicos ameaçam o sistema capitalista, ao empobrecer os trabalhadores e ao gerar desigualdades ainda maiores.
Marx estava certo!
Outro economista, Paul Ormerod, no entanto, respondeu criticando o governador do Banco da Inglaterra por ser tão pessimista. Ele disse que Marx estava errado.
“O futuro parece mais otimista do que Marx ou Carney sugerem”, escreve Ormerod no jornal CITYAM. “[Marx erradamente] acreditava que a classe capitalista expropriaria todos os ganhos [e que] os salários permaneceriam próximos aos níveis da subsistência”.
Esta é uma simplificação excessiva de Marx – e ignora a realidade enfrentada por milhões de pessoas comuns. Neste período de lucros massivos para os capitalistas, não é um fato que as condições de trabalho e os salários dos trabalhadores estão sendo empurrados para baixo, enquanto os ricos ficam cada vez mais ricos?
Na última década, os salários reais caíram mais rápido do que em qualquer outra década desde 1750. Os trabalhadores são forçados a participar de uma corrida ao fundo do poço. A parcela da renda nacional que vai para os trabalhadores na forma de salários vem diminuindo há décadas. Até mesmo Ormerod admite que, nas economias avançadas, a parte que ia para o trabalho era 56% da renda nacional, em meados dos anos 1970, mas agora caiu para 51%.
O capitalismo está em uma crise profunda. O futuro parece muito sombrio. Mesmo os estrategistas mais sérios podem ver isto agora. Portanto, é necessário que tiremos a conclusão: não podemos reformar este sistema capitalista assolado pela crise.
O capitalismo necessita ser eliminado e substituído por uma economia racionalmente planificada, dirigida não para o lucro, mas para a necessidade. Deve ser tarefa de um governo socialista liderado por Corbyn dar um fim a este sistema falido de uma vez por todas.
Artigo publicado em 2 de junho de 2018, no site da marxismo.org.br