EUA apertam o nó na Venezuela: terá êxito o golpe?

Os esforços de Washington para remover o governo venezuelano, uma tentativa de golpe imperialista, prosseguem rapidamente. Em 26 de janeiro, os EUA anunciaram sanções contra a PDVSA e confiscaram ativos da empresa de petróleo venezuelana. Este é um golpe sério à economia venezuelana e ao governo. Está claro que a administração Trump acha que tem uma janela de oportunidade e está indo para a matança.

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No entanto, até agora, a tentativa de golpe não conseguiu obter qualquer apoio das forças armadas e os protestos de rua mais recentes da oposição foram um fracasso. Quais são as perspectivas dessa agressão imperialista e como pode ser efetivamente combatida?

O anúncio do Departamento do Tesouro dos EUA de novas sanções contra PDVSA e o confisco de seus ativos nos EUA foram um passo importante na campanha de remoção do presidente venezuelano. Esta é uma medida que Washington evitou tomar até agora por conta de seu impacto negativo sobre as refinarias estadunidenses. Os EUA importam da Venezuela cerca de 500.000 barris de petróleo ao dia. As novas sanções proíbem indivíduos ou empresas estadunidenses de realizar transações com a PDVSA, ou, se o fizerem, os pagamentos serão direcionados a uma conta de garantia, que está fora de seu controle. Considerando que a produção total de petróleo é de 1,1 milhões de barris ao dia, o impacto é muito sério. É possível que um pouco do petróleo bruto venezuelano ainda flua para as refinarias dos EUA por meio de terceiros, mas pelo menos de 200.000 a 300.000 barris ao dia terão que encontrar outros compradores. O custo estimado disso é de cerca de 11 bilhões de dólares americanos para o restante do ano. Além disso, os EUA apreenderam ativos da PDVSA nos EUA no valor de 7 bilhões de dólares. Também deixaram claro que esses ativos seriam colocados à disposição do “legítimo presidente interino” reconhecido por eles, Juan Guaidó.

A morte através de sanções

As sanções são programadas para causar o máximo de danos, “para fazer a economia gritar”, como disse Nixon quando ordenou à CIA para se preparar para a derrubada de Allende no Chile. Uma grande proporção dos embarques de petróleo da PDVSA, à China e à Rússia sobretudo, não é paga em dinheiro, mas sim como pagamento de empréstimos obtidos desses países. Portanto, entre 80 e 90% da receita em dinheiro de PDVSA vêm das vendas aos EUA. A PDVSA já anunciou que todos os clientes nos EUA que esperam que seus navios-tanque sejam carregados precisam pagar de forma integral e antecipada pela carga, ou os pedidos não serão atendidos. Essa é uma medida defensiva, que terá de vir acompanhada por uma transferência de vendas de petróleo a outros clientes nos próximos dias e semanas. Esse é um processo que leva tempo. A Venezuela produz principalmente petróleo extra-pesado, que nem todas as refinarias conseguem manejar.

Para aumentar o impacto das sanções, o assessor de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, emitiu uma declaração provocativa em 30 de janeiro sugerindo que as sanções estadunidenses aprovadas fossem aplicadas além das fronteiras dos EUA, o que tecnicamente não cabe:

Empresas como a Repsol espanhola, que não são diretamente afetadas por essas sanções, estão reconsiderando suas opções. Nos últimos três meses de 2018, a Repsol esteve importando 53.000 barris/dia em um acordo de petróleo pela dívida. O Financial Times informou que “Alguns suspeitam que o Tesouro dos EUA turvou intencionalmente as águas para afugentar compradores alternativos do petróleo venezuelano enquanto Washington aumenta a pressão sobre Maduro”.

De forma significativa, Bolton estava na conferência de imprensa onde foram anunciadas as sanções, portando um bloco de notas com as palavras “5.000 tropas da Colômbia” escritas nele. Algumas pessoas disseram que isso revela o quão estúpido ele é. Embora seja certamente um elemento da equação, uma explicação mais plausível é que o bloco de notas foi mostrado deliberadamente com o objetivo de enviar uma mensagem ameaçadora a Maduro: renuncie ou então… A mensagem também foi dirigida ao exército venezuelano, implicando que, se eles continuarem a apoiar o presidente, podem enfrentar a invasão dos EUA. Ao mesmo tempo em que Bolton agitava seu bloco de notas na conferência de imprensa, foi informada uma visita do Major-General Mark Stammer, comandante do Exército Sul dos EUA, à Colômbia, onde se supõe que ele está revisando os planos para o enfrentamento de “ameaças mútuas” na fronteira com a Venezuela.

Provocação militar e pressão imperialista

Informes provenientes da Venezuela citaram que um pequeno grupo de agentes paramilitares já havia cruzado a fronteira da Colômbia. Embora esses informes não tenham sido confirmados, são perfeitamente plausíveis. Todos sabem que qualquer provocação ou agressão militar contra a Venezuela provavelmente virá da Colômbia, que tem um governo de direita totalmente alinhado com Trump, onde existem bases militares dos EUA e que tem mostrado há muito uma atitude beligerante contra a Revolução Bolivariana.

A intervenção militar não é, certamente, o primeiro item da agenda desse golpe e não ocorrerá sem riscos sérios. Washington está seguindo um plano pré-estabelecido, que começa com pressões diplomáticas e continua com sanções econômicas destinadas a paralisar a economia. Às sanções dos EUA, devemos acrescentar a retenção (de fato, o confisco) de 1,2 bilhões de dólares em ouro pelo Banco da Inglaterra, uma decisão que agora sabemos ter sido tomada depois do lobby de Mike Pompeo e John Bolton semanas atrás, bem antes de Guaidó se proclamar presidente. Guaidó já fez lobby junto ao governo do Reino Unido para colocar esses ativos a sua disposição.

Hoje o Parlamento Europeu votou a favor de uma moção (movida conjuntamente por Conservadores, “Socialistas” e Liberais) para reconhecer Juan Guaidó como presidente legítimo da Venezuela. Bastou apenas uma semana para a política externa da União Europeia se alinhar plenamente com o golpe Trump-Bolsonaro. Nenhuma surpresa aqui. A União Europeia sempre apoiou todas as aventuras imperialistas externas dos EUA, do Iraque à Líbia.

Isso foi precedido por um ultimato escandaloso, emitido pelo primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez, de que, a menos que Maduro convoque eleições presidenciais dentro de oito dias, a Espanha reconheceria Guaidó como presidente, sabendo muito bem que isso não aconteceria. A posição de Sanchez é particularmente escandalosa. Ele chegou ao poder prometendo cortar as vendas de armas à Arábia Saudita e renegou da promessa assim que assumiu o cargo. Naturalmente, nenhum exigência de eleições foi feita ao monstruoso regime saudita.

Além disso, enquanto Sanchez exige eleições presidenciais na Venezuela, na Espanha, o chefe de estado nunca foi eleito. Felipe VI ocupa o cargo em virtude de ser filho de Juan Carlos I, que foi nomeado pelo General Franco, o ditador, antes de sua morte! Nada disso, naturalmente, incomoda Sanchez, que lidera um partido que é nominalmente “Socialista” e “Republicano”. Os interesses das multinacionais espanholas superam quaisquer outras considerações, e então Sanchez se juntou ao coro dos partidos de direita e extrema-direita espanhóis (PP, Cs e Vox).

Quase simultaneamente, a França, o Reino Unido e a Alemanha se uniram ao ultimato da Espanha, um subterfúgio para justificar uma política que já havia sido decidida, provavelmente com base em uma série de chamadas telefônicas desde a Casa Branca. O reconhecimento de Guaidó pela União Europeia deve ser acompanhado pela intensificação das sanções econômicas, em linha com a posição do Tesouro dos EUA.

Guaidó também nomeou seus próprios representantes nos EUA, na Argentina, na Colômbia e em outros países que o reconheceram como “presidente”. Além dos EUA, todos esses países ainda mantêm relações diplomáticas com a Venezuela e seu presidente eleito Maduro, e há embaixadas e consulados totalmente estabelecidos. Não podemos descartar uma situação em que os manifestantes da oposição tentem ultrapassá-los. Os países da União Europeia podem seguir seu exemplo.

Toda essa pressão tem um objetivo claro: forçar Maduro a renunciar ou convencer as forças armadas de que é de seu interesse removê-lo. Até agora, não houve nenhum sinal público de que a estratégia esteja funcionando, mas podemos estar seguros de que, por trás do cenário, estão ocorrendo reuniões e discussões.

O exército espera, a oposição luta

Até agora, as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) da Venezuela mostraram publicamente sua lealdade ao presidente eleito Maduro e rejeitaram fortemente qualquer interferência externa. As FANB durante um período de muitos anos foram expurgadas de seus elementos mais reacionários como resultado de golpes fracassados (2002) e de tentativas de conspiração. A Revolução Bolivariana também teve o efeito de politizar as fileiras do exército, bem como uma camada de oficiais. Isso, no entanto, não é garantia de sua lealdade. Não esqueçamos que Pinochet foi nomeado pelo presidente Allende como chefe das forças armadas depois do fracassado golpe do tanquetazo de junho de 1973, por ser considerado como um oficial constitucionalista. Menos de três meses mais tarde, ele liderou o golpe que derrubou o governo.

Uma das principais razões para a lealdade dos chefes do exército venezuelano está nas concessões que receberam nos últimos anos. Os oficiais militares gerenciam a importação e o suprimento de alimentos, muitas das empresas estatais e a própria PDVSA. Além disso, a criação de CAMIMPEG lhes deu acesso a contratos lucrativos de petróleo, gás e mineração. A partir dessas posições, eles derivam poder e riquezas, por meios legais e também através de esquemas corruptos e de aberto latrocínio. Enquanto o governo Maduro lhes garantir essas posições eles serão leais. Se chegarem à conclusão de que ele está prestes a ser destituído, farão fila para embarcar na empreitada. Guaidó anunciou que “teve encontros clandestinos com membros das forças armadas e das forças de segurança”. Com certeza, deve ter havido reuniões, mas não organizadas pelo carregador de malas do imperialismo EUA. Essas reuniões foram organizadas diretamente pela CIA e pelo Departamento de Estado, as forças dirigentes do golpe.

A oposição reacionária fracassou em sua tentativa anterior de tomar o poder em 2017 porque não pôde penetrar nas áreas da classe trabalhadora e dos pobres. Foram capazes de mobilizar centenas de milhares de apoiadores, mas não conseguiram sair dos bairros de classe média e alta e entrar nos barriosde forma significativa.

A situação econômica hoje é muito pior do que em 2017. Os níveis de vida continuaram a cair e o poder de compra dos salários foi pulverizado pela hiperinflação e pela desvalorização. Mesmo assim, não houve protestos significativos nas áreas da classe trabalhadora e dos pobres. Depois da autoproclamação de Guaidó em 23 de janeiro, houve confrontos em muitos barrios em Caracas, mas eram principalmente pequenos grupos de desordeiros pagos, recrutados entre elementos malandros e criminosos, usando armas, granadas e outras armas. Foram rapidamente esmagados pelas forças de elite da FAES e CONAS.

Até mesmo os protestos da oposição em 30 de janeiro, convocados por Guaidó, fracassaram. Os pequenos grupos de manifestantes que foram às ruas decepcionaram as forças reunidas dos meios de comunicação de massa do mundo, interessados em mostrar as fotos da “mobilização em massa” de Guaidó. Os meios de comunicação, naturalmente, não informaram sobre qualquer uma das manifestações Bolivarianas que ocorreram durante as últimas duas semanas em diferentes partes do país, visto que não se encaixam na propaganda de um “governo que perdeu apoio popular”.

O fracasso do protesto da oposição de 30 de janeiro revela que a camada das massas que apoia a oposição não está preparada para participar de demonstrações de força que não levem diretamente à derrubada do “regime”. Essas pessoas são extremamente críticas a todos os líderes da oposição que os traíram em 2017 e decepcionaram suas esperanças de “mudança”. Isso cria um ambiente em que depositam todas as suas esperanças na intervenção imperialista externa, seja através de pressões e sanções diplomáticas, ou mesmo através de agressão militar. Isso é perigoso do ponto de vista da reação, pois deixa Guaidó suspenso no ar e aparecendo cada vez mais como ele realmente é: um peão dos objetivos de Trump.

Ânimo anti-imperialista não utilizado por Maduro

Não devemos subestimar o forte sentimento anti-imperialista que existe na Venezuela, e que ultrapassa as fileiras dos que apoiam o governo mais ou menos criticamente. Tal ânimo também existe dentro das forças armadas.

Finalmente, existe o fator do apoio externo ao governo de Maduro. Até agora, a Rússia e a China, bem como a Turquia e o Irã, têm sido claros em sua oposição ao golpe, mas o têm expressado principalmente em termos de oposição à intervenção externa. Isso é um indicativo de que podem estar dispostos a uma “solução” a partir da Venezuela: algum tipo de “transição” negociada, talvez conduzida pelo exército.

A Rússia tem dois interesses principais na Venezuela. Defende o governo de Maduro até agora por causa de seus contratos muito lucrativos de petróleo, mineração e venda de armas. A Rússia também emprestou grandes quantias de dinheiro à Venezuela nos últimos anos, talvez algo em torno de 17 bilhões de dólares. Tudo isso se perderia se Maduro for substituído por Guaidó. Ao mesmo tempo, é conveniente em termos geoestratégicos para a Rússia ter um aliado no quintal dos EUA.

No entanto, a Rússia, como qualquer outra potência, não tem amigos permanentes, e sim interesses permanentes. Não esqueçamos que Moscou cobriu suas apostas no início da crise síria e só saiu definitivamente em apoio de Assad quando ficou claro que ele não seria derrubado imediatamente e que os EUA não estavam preparados para colocar as botas no terreno.

A China também tem muitas participações na Venezuela, muito mais do que a Rússia. Ela emprestou a Caracas mais de 50 bilhões de dólares nos últimos anos e as empresas chinesas investiram mais de 20 bilhões de dólares no país caribenho. No entanto, em termos práticos, há muito pouco que os chineses possam fazer para defender Maduro além de vetar as resoluções no Conselho de Segurança da ONU.

Na verdade, a única forma de se combater efetivamente este golpe imperialista é adotando medidas revolucionárias e apoiando-se nas massas revolucionárias. Até agora, Maduro não fez nada disso. Todos os seus aparecimentos públicos têm sido para enfatizar que ele estaria preparado para conversar e dialogar com a oposição: de Trump até mesmo o assassino Elliot Abrams, que os EUA nomearam como responsável pela “transição à democracia”.

Naturalmente, na guerra como na luta de classes, sempre se colocam os próprios movimentos em termos defensivos. Este é diferente. Maduro não parece estar adotando alguma ação séria para responder à agressão imperialista.

Juan Guaidó nomeou-se a si mesmo como presidente, tentando usurpar o poder; nomeou embaixadores para países estrangeiros; aplaudiu as potências estrangeiras que confiscaram propriedades venezuelanas, que ele tenta administrar etc. Apesar de tudo isso, ele não foi preso. Apenas dois dias atrás, o procurador do estado adotou algumas medidas (brandas) contra ele (proibindo-o de deixar o país).

Os EUA confiscaram propriedades venezuelanas e impuseram sanções. A resposta equivalente devia ser o confisco de todas as propriedades de multinacionais dos EUA na Venezuela. Nada disso foi feito. O Banco da Inglaterra roubou 14 toneladas de ouro da Venezuela. A Venezuela estaria justificada em confiscar ativos no mesmo valor de empresas do Reino Unido na Venezuela. Nada foi feito.

As massas revolucionárias devem resistir ao golpe!

Em 28 de janeiro, enquanto os EUA anunciavam as sanções econômicas e o confisco de ativos, finalmenteMaduro anunciou a convocação de 50.000 “unidades de defesa popular” para preparar o país para uma invasão militar e prometeu transformar a Venezuela em outro Vietnã. Um passo bem-vindo, mas necessita ser transformado de palavras em ações. Muitas vezes, no passado, se falou em fortalecer a milícia, mas os oficiais do exército sempre relutaram em transformá-la em uma genuína milícia popular de trabalhadores e camponeses.

Para combater o golpe imperialista, a Venezuela necessita adotar as políticas que os cubanos seguiram em 1959-62 em face da crescente agressão imperialista: a expropriação de todas as propriedades das multinacionais e a criação de um exército de trabalhadores e camponeses. Foi assim que a invasão da Baía dos Porcos foi derrotada.

Em vez disso, Maduro parece estar seguindo na guerra (e é disso que estamos falando) a mesma política fracassada que seguiu na paz: apelos por negociações, concessões aos capitalistas e um lento e constante enfraquecimento das conquistas da revolução. Este é o caminho para o desastre.

O resultado dessa luta não está decidido. É um confronto entre forças vivas. O imperialismo tem um plano claro e está avançando de forma lenta, mas segura, avançando implacavelmente.

A única forma de derrotá-lo é confiar no povo revolucionário, descarregar golpes na classe dominante e fazer um apelo claro aos trabalhadores e camponeses de todo o continente e mais além para virem em ajuda da revolução Bolivariana. Para mobilizar a energia revolucionária dos trabalhadores e camponeses, há necessidade de uma política que coloque em primeiro lugar as suas necessidades: repudiar a dívida externa, expropriar a cadeia de distribuição de alimentos, dar a terra aos camponeses e armá-los para defendê-la; e planificar a economia de forma democrática sob o controle dos trabalhadores e camponeses para satisfazer as necessidades do povo. Esta é a linha que os camaradas da Corrente Marxista Internacional, Lucha de Clases, estão agitando na Venezuela.

A Corrente Marxista Internacional se opõe totalmente a esse golpe imperialista e está mobilizando nossas modestas forças internacionalmente para construir um poderoso movimento de solidariedade contra ele.

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