Na edição deste ano da Escola Mundial da CMI, realizada na Grécia, Stella Christou, apoiadora de Socialist Appeal e membro de SYRIZA, em Londres, falou com Stamatis Karagiannopoulos, membro da Tendência Comunista de SYRIZA, sobre a situação econômica, social e política que os trabalhadores e jovens gregos hoje enfrentam. Stamatis – que recentemente foi eleito para o Comitê Central de SYRIZA – discutiu a profunda crise do capitalismo grego, bem como a natureza dos vários partidos políticos dentro da Grécia, como SYRIZA, o KKE [Partido Comunista Grego] e o Amanhecer Dourado.
Entrevista com Stamatis Karagiannopoulos sobre os explosivos acontecimentos do último período e as perspectivas para a revolução grega.
Stella Christou: Poderia descrever-nos brevemente a situação econômica atual da Grécia?
Stamatis Karagiannopoulos: O capitalismo grego hoje se encontra em estado de impasse absoluto, em todos os níveis: financeiro, social e político. Encontramo-nos no sexto ano de uma profunda recessão. A queda total do PIB é de 25% a partir de 2008, de 240 bilhões de euros a 180 bilhões. Os imperialistas ocidentais estão falando sobre a “salvação” do povo grego da ameaça da grande dívida e sobre a garantia dos salários e pensões do povo grego. Mas a realidade está mostrando o contrário.
Não é muito difícil concluir que, com uma recessão tão profunda e com a continuidade de um roubo tão colossal, a Grécia está cada vez mais perto de um aberto colapso e de uma provável saída da zona do euro. O Estado grego deve pagar até 2016, de juros e renovação dos títulos, 105 bilhões de euros no total.
O governo Samaras [uma coalizão liderada pelo primeiro-ministro grego Antonis Samaras] espera que, após as eleições alemãs, a burguesia alemã ofereça um novo grande “desconto” e um novo empréstimo à Grécia. Mas enquanto a recessão se aprofunda por toda a Europa, a Alemanha não pode apoiar oferta tão generosa. E isto significa que não há nenhuma outra solução para a salvação de milhões de gregos além de cancelar a dívida e nacionalizar os monopólios, estabelecendo uma economia democraticamente planificada.
SC: Quais os impactos da crise sobre os padrões de vida?
SK: O desemprego na Grécia é de 30% e 1,5 milhões de pessoas estão desempregadas. Esta percentagem é maior que a da maioria dos países africanos.
A partir de 2008, os padrões de vida da classe trabalhadora foram reduzidos em 50% em geral e um milhão de empregos foram perdidos. Quatro milhões de gregos, em uma população de 11 milhões, vivem abaixo da linha de pobreza e 450 mil famílias não percebem qualquer rendimento mensal.
Trezentas mil pessoas vivem sem eletricidade e, devido às medidas de austeridade, a expectativa de vida caiu entre 7-8 anos.
SC: A Grécia tem uma história muito revolucionária. Quais são as tradições históricas da classe trabalhadora grega?
SK: Dentro da heroica história do movimento internacional dos trabalhadores, o movimento dos trabalhadores gregos ganhou uma posição especial, como resultado de suas tradições revolucionárias.
Essas tradições são produto de um capitalismo débil, dependente do capital estrangeiro; um capitalismo que, a fim de evitar a sua destruição, foi obrigado a governar com regimes Bonapartistas [ditatoriais].
Historicamente, a Grécia não se caracterizou por seu Estado “social” ou de “bem-estar”, mas pela bancarrota do Estado e ditaduras. A partir de 1830, o ponto de partida do Estado grego, até a II Guerra Mundial, a Grécia enfrentou três bancarrotas oficiais do Estado. Desde os seus primeiros passos no cenário histórico no início do século passado até a década de 1980, o movimento dos trabalhadores gregos poderia ter tomado o poder seis vezes.
Essas tradições revolucionárias na Grécia têm profundas raízes e o movimento comunista, por sua vez, conseguiu se sustentar e se fortalecer dentro da classe trabalhadora; raízes tão fortes que o estalinismo, com todos os seus crimes e traições, não conseguiu destruir.
Após a ditadura de Metaxas, em 1936, e até a Junta de 1974, a Grécia sofreu uma série de regimes Bonapartistas. Por outro lado, os últimos 30 anos de relativamente estável democracia parlamentar burguesa, sem nenhuma situação abertamente revolucionária, representaram uma exceção história para a Grécia.
Este período foi produto da estabilização internacional do capitalismo, devido ao crescimento do capitalismo ocidental e a partir de suas correspondentes reformas sociais, assim como com o crescimento do próprio capitalismo grego, que se prolongou após a década de 1990 com a ajuda de crédito barato e da desenfreada exploração de centenas de milhares de imigrantes da Europa oriental.
Durante este período, como resultado da existência de uma forte e militante classe trabalhadora com poderosas organizações de massa, a burguesia foi obrigada a se apoiar nos reformistas do PASOK [o Movimento Socialista Pan-helênico] e a adiar qualquer alternativa Bonapartista para um futuro distante.
Mas tudo o que temos visto na Grécia nos últimos três anos mostra claramente que devemos esquecer a estabilidade da democracia burguesa na Grécia, e que – depois de 30 anos de um parêntese histórico – estamos retornando rapidamente à Grécia da revolução e da extrema instabilidade política.
SC: Como descreveria a situação política na Grécia hoje? Quais são as tarefas que enfrenta o movimento dos trabalhadores e da juventude?
SK: Depois do movimento de massas nas Praças em 2011, poderíamos caracterizar como “pré-revolucionário” o período hoje na Grécia. Sobre esta questão devemos ser cuidadosos e evitar uma abordagem esquemática.
Não há nenhuma “Muralha da China” que separe um período pré-revolucionário de uma situação abertamente revolucionária.
Houve pelo menos quatro ocasiões nos últimos três anos (verão de 2011, outubro de 2011, fevereiro de 2012 e novembro de 2012) em que vimos as três condições de desenvolvimento de uma situação revolucionária – como explicam Lênin e Trotsky:
- Crise e confusão entre a classe dominante
- Radicalização da pequena burguesia (as classes médias)
- Uma classe trabalhadora pronta para a ação revolucionária
Foram somente a ausência de uma liderança revolucionária e – para sermos mais precisos – as ações das atuais lideranças sindicais e políticas que agiram como barreiras colossais; foram estas as razões pelas quais as massas ainda não perceberam sua força revolucionária.
Na Grécia temos a utilização de uma ferramenta peculiar para prevenir a militância das massas. Esta ferramenta, aparentemente, é a utilização das greves gerais de 24-48 horas sem qualquer continuidade.
Sempre que a luta de classes chega ao ponto de ebulição, a burocracia sindical convoca uma greve geral de 24-48 horas sem qualquer perspectiva concreta de continuidade. Até agora, tivemos 29 dias de tais greves gerais, incluindo quatro greves gerais de 48 horas.
Esta tática tem desperdiçado o potencial de luta das massas e desacreditado o método da greve geral aos olhos dos trabalhadores.
Numa crise tão profunda quanto a que temos na Grécia, dentro de uma profunda recessão onde a produção se encontra em um nível muito baixo, onde não somente a burguesia grega, como também uma coalizão das principais potências imperialistas estão atacando a classe trabalhadora grega, uma greve geral de 24 horas, que na realidade significa um dia de manifestações, é como a “picada de uma formiga em um elefante”.
Como nos disse um trabalhador em uma das últimas greves gerais, expressando o apoio generalizado a uma greve geral política entre a classe trabalhadora, “se, no início da crise, em um momento em que a classe trabalhadora tinha algumas reservas, tivéssemos então concentrado apenas a metade dos 29 dias em um período do mês, hoje o equilíbrio de forças poderia ser completamente diferente”.
E, se antes das eleições de junho de 2012, a principal barreira era a burocracia sindical do PASOK, depois das eleições até agora, a principal responsabilidade é da liderança de SYRIZA [a Coalizão da Esquerda Radical].
SC: Então, como e por que esta força destrutiva de SYRIZA está sendo realizada?
SK: A política e as táticas passivas da liderança de SYRIZA levaram a luta a um impasse e à decepção dos trabalhadores.
Vamos dar alguns exemplos:
- Em novembro de 2012, sob a pressão da greve geral de 48 horas, a liderança de SYRIZA falou pela “derrubada democrática” do governo. Mas os trabalhadores não ouviram ou viram qualquer coisa neste sentido e voltaram para suas casas.
- Em maio passado, quando milhares de professores responderam ao referendo com uma votação de 90% em favor de uma “greve total” contra a tentativa de proibir sua luta, os sindicalistas de SYRIZA decidiram, a partir do topo, anular a decisão dos professores.
- No recente e massivo movimento contra o fechamento de ERT [a emissora estatal], todas as 12 federações decidiram apoiar uma política de “greve geral total”, mas a liderança de SYRIZA recusou-se a apoiar esta decisão.
Esta atitude passiva e covarde multiplicou os sentimentos de desesperança entre as massas.
SC: O que caracteriza particularmente a etapa da luta de classes que enfrentamos agora?
SK: Por um lado, temos o pesado fardo do desespero e do desemprego em massa; mas, por outro, temos um profundo sentimento, particularmente entre as mais jovens camadas da classe trabalhadora, de que não há nenhuma outra solução além de lutar.
Assim, a única coisa certa é que mais uma rodada do movimento de massas está chegando, e isto provavelmente criará uma situação abertamente revolucionária.
Já começamos a ver mais ocupações de fábricas e locais de trabalho do que antes, iniciativas tomadas pelos trabalhadores demitidos. E vamos ver mais disto, enquanto mais e mais trabalhadores estão ficando desempregados.
Ao mesmo tempo, a burguesia internacional pode entender que uma tempestade se aproxima. O Wall Street Journal escreveu em 24 de junho:
“Só mais uma rodada de demissões dos funcionários públicos, mais um aumento dos impostos, mais um assassinato racista pelo Amanhecer Dourado (o partido de extrema direita, neofascista) ou a morte de um manifestante pela polícia poderiam dar início à violência novamente”.
SC: Qual a situação nos sindicatos?
SK: A situação nos sindicatos é contraditória, com muitos e interessantes aspectos.
O equilíbrio de forças no último congresso da GSEE [a Confederação Geral dos Trabalhadores Gregos] refletiu o atual distanciamento dos sindicatos em relação à classe trabalhadora.
Mas, por outro lado, em cada local de trabalho onde tivemos eleições no ano passado, vemos uma grande virada para a Esquerda em profissões como professores, enfermeiros, médicos, trabalhadores de estaleiros, eletricistas etc.
Isto, por sua vez, reflete a grande mudança no equilíbrio de forças que ocorrerá nos sindicatos no próximo período.
SC: E sobre a juventude?
SK: Uma questão de extrema importância, visto que o nível de desemprego entre os jovens é de 60%. Ao longo dos últimos três anos (com exceção do verão de 2011), não vimos qualquer movimento decisivo da grande maioria dos jovens (estudantes, universitários, desempregados etc.) e, nas greves que tivemos, a geração mais velha foi quem “deu o tom”.
Nas manifestações do último período, notamos que era mais fácil fazer contato mais próximo com um trabalhador mais velho do que com um jovem estudante ou um trabalhador mais jovem.
Por outro lado, as pesquisas de opinião mostraram que SYRIZA, em junho de 2012, ganhou seu maior apoio entre os estudantes universitários (39%) e entre a faixa etária de 18-24 anos (37%). No primeiro ano a partir da virada de SYRIZA para a direita, esta percentagem foi reduzida a 27%.
Portanto, temos uma juventude que é muito desconfiada de todos os partidos e organizações tradicionais, mas que está olhando para a Esquerda para encontrar soluções políticas.
Não é difícil de prever que a juventude será a camada que irá deixar sua marca na nova rodada da luta de classes na Grécia, e é por esta razão que devemos nos aproximar da juventude com uma clara bandeira revolucionária.
SC: Qual a situação da presente coalizão governamental? Qual é a estratégia da classe dominante grega nesta situação?
SK: Neste processo de crise, a burguesia queimou todas as suas principais cartas políticas. A classe dominante grega atualmente não tem um partido popular ou um político burguês para fazer o “trabalho sujo” com qualquer estabilidade ou por qualquer duração.
O governo Samaras, composto de Nova Democracia [um partido de direita burguês] e do PASOK, a DIMAR [a cisão de direita de SYNASPISMOS de 2010], é muito frágil e se debruça sobre uma crise sem solução, enquanto enfrenta uma nova rodada de luta massiva, resultante da recusa da Alemanha de oferecer um novo empréstimo e uma nova redução da dívida. Este governo deve entrar em colapso muito cedo.
E enquanto passam os dias, a burguesia grega começa cada vez mais a considerar confortável a ideia de manter o poder através de uma coalizão seja com SYRIZA seja com Amanhecer Dourado.
A perspectiva imediata mais provável, após a inevitável queda do governo Samaras, será uma vitória eleitoral de SYRIZA e um governo com este partido como principal força política, apoiado por DIMAR, PASOK ou pelos “Gregos Independentes”, uma cisão populista de Nova Democracia formada em 2011.
Neste cenário, e devido às extremas pressões da burguesia e da Troika, de um lado, e da classe trabalhadora, por outro, podemos antecipar profundas crises no governo e sérias divisões dentro de SYRIZA.
Além disso, o fracasso de tal governo poderia trazer uma coalizão de governo de direita ao poder, que incluiria o Amanhecer Dourado.
SC: Como você analisa Amanhecer Dourado? Quais as razões por trás de sua ascensão em popularidade e influência?
SK: Amanhecer Dourado (AD) é uma organização neonazista, e não uma formação burguesa de extrema direita comum, como a Frente Nacional de Le Pen, na França, ou a Liga do Norte, na Itália. AD foi criado por elementos fascistas dentro da polícia grega e do exército grego a partir do início dos anos 1980.
O objetivo fundacional de AD não era o de se tornar um partido de massas, mas o de reunir todos os elementos fascistas do Estado e da juventude lúmpen em uma força paramilitar que pudesse desempenhar certo papel em uma revolta contrarrevolucionária. Os fundadores de AD, dessa forma, nunca tiveram realmente uma perspectiva de influenciar as massas.
Apesar de todos os exageros e histerias dos pequenos grupos de esquerda e dos intelectuais pequeno-burgueses de esquerda, devemos destacar o seguinte:
- AD não é um partido de massas. Ele se compõe no máximo entre 2.500-3.000 militantes e simpatizantes ativos.
- AD não representa um movimento de massas e não pode ser comparado ao partido nazista da Alemanha dos anos 1930. A maioria das tentativas de AD para organizar comícios abertos foi cancelada devido à intervenção de grandes comícios da Esquerda, como aconteceu há uma semana com o cancelamento do festival da AD em Kalamata.
- A ascensão de AD não é o produto de uma “virada da sociedade em direção ao fascismo”, como dizem os intelectuais de esquerda, e sim foi o resultado do colapso dos partidos políticos da burguesia. Um voto para AD hoje não significa uma decisão do povo para uma mobilização ativa contra o movimento dos trabalhadores, mas é uma forma extremamente atrasada e cega de protesto passivo contra a corrupção do sistema político burguês.
Nossas perspectivas em relação a AD não envolvem sua conquista do poder como os pequenos grupos de esquerda preveem. Sua ascensão se deve principalmente à urgente necessidade da burguesia de encontrar um parceiro político para um novo governo burguês de coalizão de direita. Já vemos as principais lideranças de Nova Democracia (ND) declarar oficialmente que o partido deve colaborar com AD.
A perspectiva de ND seria, naturalmente, a de criar uma forma de Bonapartismo parlamentar, mas, em razão da profunda crise capitalista atual, esta não seria estável. Tal governo, mais cedo ou mais tarde, produziria uma virada ainda mais massiva à Esquerda, radicalizando principalmente a juventude.
A segunda razão é que AD não tem as necessárias bases de apoio na sociedade.
A pequena burguesia – a base social clássica da reação – não é mais a maioria da população. Nos anos 1970, 60% da população grega eram de camponeses. Na Grécia de hoje, 60% da população vivem nas duas principais cidades, Atenas e Tessalônica.
A classe trabalhadora ativa se compõe de 2,5 milhões de pessoas, enquanto 1,5 milhões estão desempregados. Se somarmos as crianças, pensionistas, donas de casa e imigrantes ilegais, teremos uma maioria absoluta para a classe trabalhadora na população. A perspectiva para o futuro previsível não é a de um poder fascista ou Bonapartista sob Amanhecer Dourado, mas a participação de Amanhecer Dourado em uma coalizão de governo burguês.
SC: O que é SYRIZA? Quais as razões por trás de seu crescimento?
SK: SYRIZA é um partido de massas composto principalmente por dois diferentes rachas de direita do KKE – o Partido Comunista Grego – no passado: o grupo sob o título “KKE do interior”, em 1968, composto pela maioria dos principais líderes de KKE no exílio; e o grupo do KKE que se formou exatamente após o colapso do estalinismo em 1991.
SYRIZA é um partido dos trabalhadores. É apoiado por um grande setor da classe trabalhadora, mas tem raízes frágeis no movimento e nas organizações dos trabalhadores e da juventude. Além disso, tem organizações partidárias muito fracas nos sindicatos, nas universidades e nos bairros.
A ascensão de SYRIZA não foi superficial. Resultou da degeneração total do PASOK, combinada ao sectarismo extremo do KKE.
Se o KKE tivesse, não necessariamente uma política marxista, mas uma política que atraísse a classe trabalhadora, em vez de SYRIZA teríamos hoje em ascensão o Partido Comunista Grego.
SC: Qual a situação em SYRIZA agora? Que conclusões podemos extrair do congresso fundacional de SYRIZA no início deste verão?
SK: Com a atual política socialdemocrata passiva da liderança de Tsipras, SYRIZA é completamente incapaz de organizar e mobilizar ativamente as massas que votaram pelo partido nas eleições de junho de 2012.
Um exemplo recente que destaca esta incapacidade foi a participação insignificante no comício aberto do partido, com Tsipras como principal orador na Praça Syntagma, durante os dias do movimento de massas contra o fechamento da emissora estatal de televisão em junho passado.
A liderança conseguiu reunir em torno de 15 mil pessoas – uma pequena quantidade em comparação com a filiação do partido em Atenas (a filiação de SYRIZA é agora de 40 mil filiados, 25 mil dos quais vivem em Atenas).
O congresso fundacional de SYRIZA não mudou o equilíbrio de forças entre a tendência de direita de Tsipras e a tendência de esquerda de Lafazanis (a Plataforma de Esquerda).
As fileiras do partido estão resistindo à virada socialdemocrata do grupo liderado por Tsipras. O fato de que dois de nossos camaradas – da Tendência Comunista dentro de SYRIZA – terem sido eleitos ao Comitê Central de SYRIZA mostra que o potencial estava lá.
Outro importante elemento do congresso foi o nível muito baixo de participação nas assembleias pré-congresso, o que reflete a ausência de entusiasmo pelas políticas de SYRIZA entre as pessoas comuns.
O caráter político da tendência de Tsipras é reformista. É óbvio que, pelo menos nesta etapa, ele se move para a direita – ao defender as ilusões de um capitalismo grego sem austeridade dentro da zona do euro – sob a pressão da burguesia.
Por outro lado, a Plataforma de Esquerda se compõe de uma aliança de estalinistas patrióticos amorfos – a velha Corrente de Esquerda do partido Synaspismos – e outros pequenos grupos de esquerda.
A Plataforma de Esquerda é uma clássica tendência reformista de esquerda, que se baseia em palavras de ordem de “romper com a zona do euro” e na nacionalização dos bancos. Na realidade, não é uma Plataforma de Esquerda, mas uma emenda de esquerda à política de Tsipras.
O único programa alternativo que foi apresentado até agora aos olhos dos membros de SYRIZA é o da Tendência Comunista, a Plataforma Comunista.
SC: Qual a situação no KKE agora?
SK: A linha dura estalinista do novo secretário do partido, Dimitris Koutsoumbas, ganhou o congresso de março contra a tendência Chroutsofite de Nikos Bogiopoulos, um jornalista que provou ser mais popular entre os membros de SYRIZA que entre os membros de KKE. Bogiopoulos fracassou até mesmo em ser eleito como delegado ao congresso em sua sessão local do partido. O grupo estalinista de Koutsoumbas foi forçado a mudar o programa do partido e a abolir oficialmente a teoria das “duas etapas” depois de 80 anos, embora as fileiras do partido continuem a defender as demandas mínimas (reformistas) e não as demandas transicionais.
Isso provocou um pequeno terremoto na Esquerda, com os apoiadores de Bogiopoulos (e também de Lafazanis em SYRIZA) acusando a liderança do KKE de Trotskismo. Esta significativa mudança no programa passou no congresso com maioria de 93%!
Mas, naturalmente, o KKE não se transformou em um partido Trotskista. Contudo, esta mudança política é a abertura de novas grandes oportunidades históricas para as ideias genuínas do marxismo dentro do movimento comunista grego.
No momento, muitos – especialmente os jovens – militantes de KKE estão colocando a seguinte questão: se a teoria das “duas etapas” e todas as suas características (patriotismo etc.) são falsas, por que insistimos em acreditar que a crítica de Trotsky ao estalinismo era totalmente sem base?
Isso criou uma grande confusão dentro da Juventude do Partido Comunista, proporcionando uma excelente oportunidade às ideias genuinamente marxistas. A Juventude do Partido Comunista agora deve ser o foco para os marxistas; um lugar onde podemos encontrar jovens trabalhadores e a juventude e educa-los no marxismo, em meio a esta profunda crise do capitalismo em que se encontra a Grécia.