Declaração da Esquerda Marxista – corrente do Partido dos Trabalhadores (seção brasileira da CMI – Corrente Marxista Internacional) diante da decisão do Conselho de Segurança da ONU de intervir militarmente na Líbia.
A revolução na Líbia – produto e continuidade da revolução árabe – encontra-se em um momento muito difícil. De um lado, o ditador Khadafi vem esmagando a revolução. De outro, a ONU aprova uma intervenção na Líbia “em defesa do povo”. Nós nos colocamos contra esta intervenção e contra o ditador, em defesa da revolução.
Nós explicamos em vários artigos o nosso apoio à revolução árabe (leia nosso Manifesto Internacional). Apoiamos a revolução na Líbia (leia este artigo de Alan Woods ou a declaração de nossos camaradas venezuelanos ou este artigo de Fred Weston), mas como em qualquer revolução, do lado dos revolucionários estão os que verdadeiramente querem mudar, os que querem a democracia, querem o socialismo e também uma série de oportunistas que apenas querem estar do lado vencedor.
No caso da Líbia, vimos que ministros que foram fiéis a Khadafi durante anos e anos, representantes na ONU, nos EUA, que durante dezenas de anos concordaram com toda a repressão, com toda a ditadura, tornaram-se de repente os maiores defensores da democracia.
Agora, estes mesmos setores, juntos com outros membros do comitê revolucionário, apoiam a intervenção “para defender a revolução”. Mas, a revolução é exatamente a ruptura com o Imperialismo e seu gerente de plantão, o semi-eterno Khadafi. Estes senhores, que hoje em nome da revolução, aplaudem a decisão do imperialismo de intervenção, traíram na prática a revolução.
Nós olhamos e aprendemos: as guerras do imperialismo para a defesa da “democracia”, como as que foram feitas no Iraque e no Afeganistão, levaram à situação atual: uma pseudo-democracia, com fraudes em eleições, manutenção das tropas estrangeiras e, particularmente, mantendo a política de miséria, de privatizações e concessões que favorecem as grandes multinacionais e destroem as expectativas, destroem o próprio povo com a fome, a guerra, a miséria.
Nós, militantes do PT e da CUT, apoiamos integralmente a resolução da Direção Executiva Nacional da CUT de 1º de março de 2011, remetida por circular em 2 de março de 2011, que diz:
“A onda de mobilizações e levantes populares iniciada na Tunísia e Egito hoje atinge outros países da região, e em particular a Líbia, onde os 42 anos de poder de Muamar Khadafi são colocados em questão por mobilizações de massa. A CUT condena a repressão violenta aos/às manifestantes e se coloca ao lado da luta popular pela democracia e por melhores condições de vida para o povo líbio. Ao mesmo tempo, é com preocupação que a CUT acompanha movimentos por parte de grandes potências, como os EUA, que deslocam navios para o litoral líbio, prenúncio de uma intervenção militar externa inaceitável. Cabe ao povo líbio, assim como aos povos do Egito e da Tunísia, decidir de forma soberana, sem ingerência estrangeira, os seus próprios destinos.”
Assim, consideramos inaceitável a abstenção do Brasil no Conselho de Segurança da ONU – o Brasil deveria votar contra a intervenção, ainda que esta posição fosse minoritária. Afinal, se como declarou o representante brasileiro, havia o temor que isso aumentasse mais os confrontos, como justificar a abstenção? Aliás, enquanto a resolução fala diretamente em “exclusão aérea” e exclui “tropas de ocupação” permite, se bem lida, o envio de tropas e “assessores” para “ajudar” (na verdade, sufocar) o povo.
Nós sabemos: a intervenção na Líbia é mais uma tentativa de destruir a revolução árabe. Como o é a intervenção da Arábia Saudita no Bahrein. Mas, a revolução, uma vez iniciada, não vai se deter frente a estes revezes. O povo e os trabalhadores líbios sofrem com a repressão de Khadafi e vão sofrer ainda mais com os imperialistas.
Lembramos a hipocrisia que representa eles dizerem que esta intervenção é em defesa do povo árabe, do povo líbio: afinal, quando do massacre perpetrado pelo Estado de Israel contra o povo palestino da Faixa de Gaza, o Conselho de Segurança da ONU nunca discutiu uma “zona de exclusão aérea” contra Israel ou o abate de seus aviões.
Nós temos convicção da força das massas. Por isso, continuamos apoiando revolução árabe, a revolução na Líbia, criticamos os que no interior da revolução defendem a intervenção imperialista da ONU e da OTAN na Líbia e levantamos bem alto:
- Abaixo a intervenção imperialista na Líbia!
- Abaixo Khadafi e todos os ditadores!
- Viva a revolução árabe! Viva a revolução socialista!