A pedra de fundação da ONU foi lançada pelo presidente Truman, que ordenou o lançamento de duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, mesmo quando o Japão já estava para se render.
Quando Barack Obama tomou o microfone para discursar na reunião anual da Assembléia Geral da ONU, ele parecia estar falando de outro planeta. Na medida em que o presidente falava naquilo que não acreditava, sua habilidade com a oratória desapareceu.
As referencias do presidente americano às guerras que seu país realiza em diversos pontos do mundo e às perspectivas econômicas das diferentes partes do planeta se assemelham muito à linguagem patenteada por Orwell, denominada de “Newspeak”. A desconfiança e o temor visíveis, que ele inutilmente tentava disfarçar, expunham toda a decadência e fraqueza da maior potencia mundial que a história humana jamais conheceu.
Obama sequer mencionou a América Latina, cujos lideres têm péssimas noticias para dar a respeito dessa parte crucial do mundo. A guinada para a esquerda que se vê no continente, impulsionada pelos movimentos de massa que ameaçam a hegemonia americana no continente, coloca aos agressores imperialistas em uma situação onde eles não podem arriscar uma ofensiva militar contra os povos em marcha. Se não fosse pelos reformistas e pela ausência de uma direção leninista, a derrubada do capitalismo teria ocorrido bem antes nessa década. Mas depois do giro à esquerda latino americano, é a Revolução Árabe que choca o imperialismo e a ordem mundial existente.
Com um discurso enjoativo, Obama homenageou a queda de ditadores que até o último minuto serviram de sucursais dos interesses do imperialismo americano. Afinal, não faz muito tempo, foi no Egito de Mubarak que Obama fez seu “discurso histórico”, em Cairo. Na época Obama não fez nenhuma critica ao regime vigente no país. O maior aliado do governo dos EUA na região é a monarquia saudita que concedeu asilo a todos os ditadores derrubados pelas rebeliões populares. Os aliados que ele mencionou incluem Jordânia, Marrocos, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e outros regimes reacionários que oprimem os povos e que têm o apoio constante do imperialismo americano. Contudo, todos esses regimes estão em crise e serão logo varridos por uma nova onda de revoltas que estão por surgir.
Mas a parte mais patética do discurso de Obama foi quando ele rejeitou o reconhecimento do estado palestino por parte da ONU. Nem mesmo a mais elaborada hipocrisia diplomática daria base para um recuo tão vergonhoso diante da voracidade do estado reacionário de Israel. Com um poderoso lobby no Congresso americano e o apoio dos imperialistas, esses líderes sionistas ditam as regras no Oriente Médio. Os cooptados líderes palestinos da Cisjordânia não trouxeram nada mais que modestas propostas de alteração do status do estado palestino, de “estado observador sem direito a voto” para “estado observador”. O Vaticano é um estado observador. A resposta histérica a esta ínfima mudança no status Palestino prova o desespero em que se acham as classes dominantes dos dois países.
Pela primeira vez, o estado israelense se vê frente a um desafio jamais foi enfrentado em toda sua historia. As elites e o regime de Netanyahu foram abalados. Mas esse choque não veio do nada. Nas ultimas semanas, a classe trabalhadora e a juventude israelense se rebelaram contra o sistema e o estado, exigindo mudanças revolucionárias que são apoiadas por 90% dos israelenses. É somente dessa forma que os trabalhadores poderão se libertar e derrotar o estado sionista. Esse processo também pode dar inicio à luta pela Federação Socialista do Oriente Médio.
A solução dos problemas na região, com a criação de dois estados, é, e sempre será uma utopia. Até alguns analistas sérios da burguesia já admitem esse fato. O ex-estrategista da CIA, o veterano jornalista Eric Margolis, escreveu recentemente: “alguns pensam que a solução de dois estados será viável depois que alguns irritantes detalhes forem resolvidos.” Esse autor não compartilha dessa visão. O Partido Likhud e sua coalizão fascista querem toda a Cisjordânia e as colinas de Golã. Sua estratégia é permanecer em intermináveis negociações infrutíferas enquanto expande os assentamentos. Uma melhora do status palestino na ONU não vai resolver esse problema.
A questão palestina, bem como outras ao redor do mundo, expõem a insignificância e fraqueza das Nações Unidas. Desde sua criação, jamais foi capaz de resolver sequer um grande conflito, passando pela Guerra da Coréia até a Invasão do Iraque. Mais de 218 resoluções já foram aprovadas na ONU pedindo o fim da ocupação dos territórios palestinos pelas forças de Israel. Sabemos bem o resultado de tudo isso. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial já houve mais vitimas de conflitos armados do que nas duas guerras mundiais juntas. E esse banho de sangue só vai piorar.
A ONU tem sido o braço auxiliar do imperialismo e age de acordo com seus interesses. Na verdade não passa de um clube de debate de lideres que oprimem bilhões em todo o planeta. Foi fundada no acordo entre os países capitalistas vitoriosos na Segunda Guerra juntos com o estado burocrático soviético, em cujas mãos a revolução socialista mundial já havia definhado. Os acordos que mais uma vez dividiram o mundo em áreas de influencia foram decididos em conferencias entre Roosevelt, Stalin e Churchill entre 1944-45 em Yalta, Teerã e Potsdam. Churchill escreveu em seu livro Triunfo e Tragédia: “O momento estava bom para os negócios, então eu disse ‘vamos resolver nossos assuntos... não vamos nos desentender por detalhes’ eu passei a palavra para Stalin... ele simplesmente pegou um lápis e fez um enorme quadrado sobre ele. Foi tudo acertado no tempo que gastaríamos para nos sentar... Aí eu disse ‘não é muito cinismo decidir a vida de milhões de pessoas de uma forma tão leviana? ’ ”. (Pag 227-228). Assim o reacionário revelou sua traição.
A pedra de fundação da ONU foi lançada pelo presidente Truman (dos EUA), o mesmo que ordenou o lançamento de duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, no momento em que o Japão já estava para se render.
Obama disse, corretamente, que nenhum memorando da ONU vai garantir a liberdade da Palestina. É uma Organização das Nações Desunidas que decide sobre as questões nacionais. Todos os assuntos sérios na política e na sociedade são resolvidos por guerras e revoluções. Os imperialistas estão sempre por de trás dessas guerras intermináveis. A vanguarda da classe operária está se preparando para a revolução.
Traduzido por: Esquerda Marxista (Brazil)