Pânico!

Portuguese translation of Panic! (January 22, 2008)

As bolsas mundiais estão agora 20% abaixo de seu ponto máximo do passado mês de novembro.  Tecnicamente, isto se chama "mercado em baixa". As bolsas tiveram o seu pior início de ano em trinta anos e, no caso dos EUA e da Grã-Bretanha, o pior início desde que este é registrado nas estatísticas!

Por que este pânico? Até o natal as bolsas em geral pareciam estáveis e não caíam demasiado. Os investidores capitalistas, como diriam os psiquiatras, "não queriam reconhecer o problema". Sabiam que havia um problema com o crédito e com os mercados de dívida devido ao colapso do mercado imobiliário norte-americano e com as perdas sofridas pelos grandes bancos e instituições financeiras que tinham queimado os dedos nas chamadas hipotecas subprime. Mas os investidores pensavam que esta situação não afetaria as suas inversões porque não tocaria a crescente economia capitalista "real" de mercadorias e serviços.

Naturalmente era uma ilusão. Depois do natal, um grande banco depois do outro anunciou mais perdas devido à "depreciação" do valor de seus ativos de dívida comprados ante a expectativa de que os preços imobiliários continuariam subindo. Até o momento, os bancos e instituições financeiras perderam 120 bilhões de dólares. Pode ser que finalmente tenham de admitir perdas quatro vezes superiores a isto que poderiam equivaler a 1% do PIB mundial.

Além disto, há a realidade da situação da economia norte-americana que começou a ser filtrada na consciência dos investidores capitalistas. Os resultados dos lucros das grandes empresas caíram abruptamente, não somente no setor financeiro (20% na bolsa), mas também em empresas como a Microsoft, as empresas automobilísticas e outras empresas de serviços. Os lucros empresariais norte-americanos parecem ter caído entre cinco e 10% no último trimestre de 2007. Será ainda pior em 2008.

A economia norte-americana também desacelerou muito rápido em direção a uma recessão econômica, quando a produção nacional também caiu. O setor imobiliário está em queda livre, os preços caíram entre 5-10%, as vendas em 50% e a inadimplência de hipotecas no arriscado setor de hipotecas subprime aumentou em 20%. Mas as coisas não acabam por aqui. As vendas de natal dos comerciantes varejistas nos EUA são espantosas, não cresceram nada com relação a 2006. E em outros serviços as vendas também estão caindo.

Os mercados de crédito e dívida (hipotecas, cartões de crédito, financiamentos automobilísticos) viram como subiam os custos dos empréstimos apesar de a Reserva Federal ter iniciado uma série de rebaixas das taxas de juros; além disto, o Banco da Inglaterra e o Banco Central Europeu lançaram uma injeção coordenada de 500 bilhões de dólares de créditos no sistema financeiro mundial. Mas nem funciona nem deterá a recessão e o mercado imobiliário continua da mesma forma. Assim, as bolsas entraram em situação de pânico.

E têm razões para entrar em pânico. Quando a economia norte-americana se encaminhar para uma recessão, o mundo todo será arrastado com ela. Já o mercado imobiliário britânico segue o mesmo caminho do estadunidense. Os preços imobiliários já estão caindo há três meses consecutivos e continuarão assim, inclusive apesar de o Banco da Inglaterra planejar reduzir as taxas de juros. O consumidor britânico gastou menos no natal porque a maioria das famílias britânicas já está muito endividada.

A manufatura britânica também sofre problemas porque a libra está demasiado forte, o que encarece as suas exportações. Isso ocorreu porque o déficit comercial britânico (inclusive maior que o dos EUA em termos de participação no PIB) foi financiado mediante a atração de "dinheiro quente" dos russos, árabes e outras classes dominantes ricas em petróleo (que compraram casas, equipes de futebol e ações britânicas). A economia britânica vacila e viveu à custa do aumento dos preços da propriedade e do empréstimo. Mas esta situação chegou ao seu fim.

Agora, os mercados deram-se conta de que a Europa e o Japão também desaceleram. Há três meses, a maioria dos economistas capitalistas dizia que a Europa e o Japão cresceriam em 2008 aproximadamente entre 2,5-3%, enquanto que a Grã-Bretanha e os EUA o fariam menos. A China e a Índia continuariam com 10%. Agora, todos mudaram de melodia. A maioria espera uma recessão nos EUA e um crescimento mais lento na Europa e no Japão. Esperam ainda um bom crescimento na China e na Índia.

Mas as coisas piorarão. Com a Grã-Bretanha e os EUA em recessão e a expectativa de que a Europa e o Japão não cresçam mais de 1%, a China e a Índia também desacelerarão em, aproximadamente, metade de suas atuais taxas de crescimento. Essas são más notícias.

Significa mais desemprego (provavelmente em taxas de dois dígitos nos EUA e na Grã-Bretanha) e salários menores, embora as receitas dos tubarões na City ou em Wall Street não baixem demasiado. Será particularmente mau para as economias que dependem cada vez mais do capital financeiro e não dos setores produtivos da manufatura ou do transporte.

Como já dissemos em muitas ocasiões, a Grã-Bretanha, das sete grandes economias do mundo, é a que mais depende do setor financeiro, da propriedade e dos chamados serviços profissionais (legal, seguros, assessorias). Assim, uma desaceleração mundial afetará muito duramente este país. Mas Deus nos ajudará com o novo trabalhismo de Gordon Brown e Alistair Darling! Sua política é para salvar os investidores de Northern Rock e não para salvar os trabalhadores.

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