Os EUA decidiram que já é hora de uma “mudança de regime” na Venezuela e estão agindo de forma implacável para conseguir isso. Os imperialistas nomearam um “presidente interino” e reuniram a “comunidade internacional” para reconhecê-lo. Apreenderam os ativos venezuelanos nos EUA e no Reino Unido e impuseram sanções econômicas. Pedem ao presidente Maduro para renunciar e que o exército venezuelano o destitua se se negar a fazê-lo. Esta é uma tentativa de golpe de estado imperialista, a que qualquer socialista e mesmo qualquer democrata consistente tem o dever de se opor.
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Não se trata apenas de que a oposição venezuelana tenha decidido lançar outra tentativa para se desfazer de Maduro, trata-se na verdade de um plano detalhado elaborado em Washington. O presidente da Assembleia Nacional controlada pela oposição, Juan Guaidó, viajou aos EUA em dezembro, onde foi recebido por funcionários de alto escalão da administração dos EUA e recebeu instruções precisas. A Casa Branca encurralou todos os seus aliados na América Latina e Canadá para que o reconhecessem como o “presidente legítimo” tão logo se proclamou como tal.
Títeres imperialistas
Os escalões mais altos de poder nos EUA estão envolvidos nessa tentativa de golpe de estado: Mike Pence, Mike Pompeo, John Bolton e, naturalmente, empurrando por trás do cenário, o porta-voz da máfia cubana de exilados, o senador Marco Rubio.
Como se isto não fosse suficiente para enviar uma mensagem clara do que está em jogo, os EUA designaram Elliot Abrams como a pessoa encarregada de coordenar as operações de “restauração da democracia” na Venezuela. Abrams foi condenado por mentir ao Congresso sobre o escândalo Irã-Contras, em que esteve fortemente implicado. Respaldou e encobriu regimes assassinos e esquadrões da morte na Guatemala e El Salvador na década de 1980; coordenou o financiamento das quadrilhas reacionárias dos Contras na Nicarágua; organizou a invasão do Iraque e algumas fontes o mencionam como a pessoa que deu “aprovação” ao golpe de estado na Venezuela respaldado pelos EUA em 2002.
Deve ficar claro para todos que nenhuma dessas pessoas têm o menor interesse na chamada “crise humanitária” da Venezuela e que, certamente, não estão motivados por qualquer preocupação com a “democracia” ou os “direitos humanos”. John Bolton expressou isso sem rodeios em uma entrevista a Fox News:
“Estamos conversando com as principais empresas estadunidenses agora… Seria uma diferença se pudéssemos lograr que as empresas estadunidenses produzam o petróleo da Venezuela”.
O que os imperialistas querem na Venezuela é um governo obediente para esmagar tudo o que resta da Revolução Bolivariana e, naturalmente, para se apossar das maiores reservas de petróleo do mundo localizadas a pouca distância dos EUA. Este foi o seu objetivo durante 20 anos, uma vez que, anteriormente, realizaram o breve golpe de estado contra Chávez em 2002.
Eles calculam que agora, com o impacto da brutal recessão econômica que atravessa a Venezuela e com os governos de direita na Colômbia, Brasil, Argentina e Chile, têm uma janela de oportunidade que pode lhes dar o êxito.
Se ganham e conseguem instalar um governo títere dos EUA na Venezuela, seria um desastre. Do ponto de vista econômica e social, Guaidó já anunciou o seu programa de privatização de todas as empresas nacionalizadas (aço, telecomunicações, cimento, eletricidade etc.), o retorno das terras expropriadas aos antigos proprietários, demissões massivas no setor público, contratos de petróleo lucrativos para as multinacionais estrangeiras em condições muito favoráveis etc.
Resistir ao golpe: Tirem as mãos da Venezuela!
Do ponto de vista político, a vitória do imperialismo na Venezuela teria um impacto negativo nas massas de trabalhadores e camponeses de todo o continente.
Por todas essas razões, não somos indiferentes. Opomo-nos frontalmente a essa tentativa de golpe de Estado militar orquestrada por Trump e Bolsonaro.
A crise econômica que devastou o país durante os últimos quatro anos minou gravemente o apoio ao governo de Maduro e desmoralizou uma parte das massas bolivarianas. A crise foi provocada pela forte queda dos preços do petróleo e está agravada pela corrupção. A isso se acrescentam as agressivas sanções dos EUA nos últimos anos. No fundo, no entanto, a crise é o resultado de se tentar fazer uma revolução pela metade, introduzindo elementos de regulações e controles sobre o funcionamento normal do “mercado livre” capitalista, enquanto que, ao mesmo tempo, deixam-se em mãos privadas as alavancas fundamentais da economia. Se a Venezuela mostra algo, não é o “fracasso do socialismo”, mas a impossibilidade de se regular o capitalismo e o desastre das políticas de intervenção estatal dentro dos limites do capitalismo.
Até agora, o exército permaneceu leal ao governo de Maduro. Muitos dos generais do exército têm um interesse direto na manutenção do regime na medida em que lhes garante poder e privilégios. Isso pode mudar se sentirem que a ofensiva imperialista está ganhando terreno.
A única forma de se derrotar o golpe é confiar nas massas revolucionárias de trabalhadores e camponeses, que, em todas as ocasiões, enfrentaram o desafio e salvaram a Revolução Bolivariana. Isto só se pode fazer atendendo suas necessidades mais prementes em termos de salários, suprimento de alimentos e condições de vida. O golpe só pode ser derrotado com medidas revolucionárias audazes.
Os imperialistas se apoderaram dos ativos venezuelanos nos EUA, de modo que a Venezuela deveria se apoderar imediatamente de todas as multinacionais dos EUA no país. Todos os capitalistas, banqueiros e latifundiários envolvidos no golpe devem ser expropriados sob o controle dos trabalhadores. Os trabalhadores e os camponeses devem estar armados para defender a revolução frente a uma intervenção militar estrangeira, que Trump diz não descartar. Os soldados e oficiais revolucionários deveriam estabelecer comitês revolucionários dentro do exército para vigiar os conspiradores e indecisos diante do golpe e que poderiam ser comprados pelo imperialismo.
Este é o único caminho a seguir. As contínuas concessões e compromissos com a classe dominante, que já levaram o movimento bolivariano a um beco sem saída, seriam suicidas e abririam o caminho para a derrota. Ao mesmo tempo, um movimento de solidariedade poderoso, internacional e anti-imperialista, deve ser criado em todo o mundo. Não ao golpe de estado: Mãos fora da Venezuela!